Uma casa é um projecto sem fim


Depois de ter saído da Faculdade, voltei para casa, de onde só saí recentemente. Neste período, quase esqueci o que fui aprendendo sobre gestão de casas naqueles cinco anos. Sendo certo que a vida de estudante foi altamente patrocinada pelos pais (e põe mãe nisso!), já que aos fins de semana, comigo ia roupinha suja e voltava, além da lavada, comidinha da boa. Claro que, apesar disso, foi também nestes anos que aprendi a fazer tudo e a tratar da "minha" casa. Se bem que fomos sempre três a viver e por isso o projecto era compartilhado por todas: nem sempre me cabia a mim cozinhar, limpar ou arrumar as áreas comuns e podia não me apetecer ter roupa passada. Foi um primeiro contacto com a vida real, mas muito apoiado, com ajudas. Sendo que, em casa, a posição de ajudante cabia-me a mim, por isso nunca me vi aos comandos de coisa nenhuma.

Vejo-me agora, portanto, como sócia gerente desta empresa-casa. E apercebo-me que a um gerente não é dada a opção de ir fazendo. É fazer e rapidinho, se não perdes o controlo, e Deus sabe que eu gosto de tudo arranjadinho, organizado e sem falhas. Assim sendo, quando penso que já aspirei a casa, eis que há migalhas por todo o lado; quando acho que acabei de limpar o pó, eis que já está tudo empoeirado outra vez; quando já passei a esfregona no chão, ali estão umas manchas; quando acabo o cesto da roupa, já ali está mais para passar; quando regressamos das compras, falta sempre qualquer coisa; não há um dia sem roupa para lavar, sujidade para limpar ou coisas para fazer. Não há um momento em que esteja tudo como deve estar: limpo, arrumado, roupa passada, armários cheios. Não há um momento em que seja possível sentar e apreciar, por instantes que seja, o resultado do trabalho tido, porque à espreita já está mais trabalho. Como sócia-gerente, gostava de despedir estes trabalhadores que cá tenho, cuja função é desfazer o que faço. Assim, minha gente, não dá! 

(Um pequeno parêntesis para dizer que, embora fale na primeira pessoa, as tarefas são partilhadas).

Por estes lados há portanto um projecto a acontecer, que não tem fim. E as exigências são diárias. Hoje, por exemplo, a dupla de amigos cesto da roupa e ferro de passar já me assaltou os pensamentos meia dúzia de vezes. Tenho-lhes dito que há mais vida para além da casa, mas não parecem muito convencidos. E respeito à hierarquia, não há?

2 Coisas dos outros

  1. kkkkkkkkkkkkk Adorei este devaneio, sobretudo o trecho que diz, ...."gostaria de despedir estes trabalhadores que ca tenho, cuja função eh desfazer o que faço." Porque aqui em casa funciona igual, com o detalhe que eu tenho uma gata e as vezes a casa parece um faroeste de tantas bolas de pelo no ar. Eu desisti de tentar ser a formiguinha que trabalha sempre, que trabalha o verão inteiro para descansar no inverno. Porque como disseste, não ha descanso. Eu faço com as mãos e ela e o marido ciscam com os pes e patas. Por vezes ate brinco dizendo que vou da a esfregona a minha pessoa-gato para ela limpar a sujidade...tudo em vão não eh? Minha linda, tens que fazer e digo que deves fazer tudo o que te apetecer, mas não te tornes escrava da casa, tens que te sentir bem acima de tudo porque esse trabalho nunca acaba mesmo! Por isso, ha sempre tempo para o fazer. Ahhh e quanto a roupa para passar...nem te digo nada...tenho 2 bacias cheias de roupa e nenhuma coragem para la ir passar...elas que esperem porque neste momento não tenho qualquer disposição para lhes dar ouvido. =) Beijos! Ahhh relaxa! Porque se eu te disser que mal eu acabo de fazer a limpeza em casa e tenho o chão a brilhar, vem a minha gata (fazer a depilação das patas)...enfim...

    ResponderEliminar
  2. LOOL

    Tenho dias em que sinto o mesmo! Que abordagem deliciosa!

    ResponderEliminar