Quando era pequena queria escrever um livro. Não precisava de ser escritora ou viver da escrita; bastava-me aquele livro que publicaria e seria um enorme prazer. Na segunda página ia dedicá-lo a quem era importante. E na seguinte, uma frase qualquer. Sempre fui adepta de frases, pensamentos e ideias, que guardei religiosamente num caderno A4 de capa preta e argolas brancas, juntamente com recortes de revistas, fotografias e outras tantas preciosidades. Aprender a ler e escrever foi um gosto. Mesmo antes disso, decorava palavras inscritas em logótipos, publicidade, marcas e dizia a quem queria ouvir "ali diz isto." Não sabia ler mas sabia de cor. E ainda hoje decoro palavras, que guardo em cantos da memória como pedras preciosas. Gosto desta coisa das letras, das palavras mas sobretudo das mensagens.

Nunca escrevi nenhum livro. Fui escrevendo ao longo da vida vários projectos, que ficaram em gavetas ou se perderam nas formatações dos computadores. Mas descobri que afinal não era a minha vocação. Conservo o gosto da escrita (diferente do jeito), das palavras e frases, continuo a guardá-las religiosamente na agenda ou no pequeno bloco A5 que me acompanha para todo o lado, mas deixei de lado o sonho de escrever um livro. Quis a vida que eu fosse outra coisa qualquer. E o mais perto da escrita que estive foi a tese, que nada tem de livro.

Tem no entanto a "dedicatória" e a frase. Talvez não tanto uma dedicatória mas um agradecimento. Aos meus pais e ao meu irmão. Ao P. E à minha família. Aos primeiros, a quem devo muito do que sei e quase tudo do que sou, agradeci por nunca me faltaram. Ao P., para quem não existem palavras suficientes, por tudo aquilo que só nós os dois sabemos. À família, por estar comigo para onde quer que eu vá.

E a frase, que se fosse hoje ainda seria a mesma.
"Two roads diverged in a wood, and i
I took the one less travelled by,
And that has made all the difference."
                                      Robert Frost

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