Devaneios de dias à noite (7)
Esqueci-me de assinar o dia do meu início. Começou tudo ali, naquele papel sem assinatura. Até hoje me recordam disso. "A primeira coisa que pensei foi: olha esta! Nem assinou!" Mas chamaram-me e eu fui. Anos mais tarde viriam a dizer que aquela foi a "melhor conversa de sempre" e de facto definiu-nos logo ali. Eu estava de braços abertos, igual a mim. Ligaram no dia seguinte de manhã: "podes voltar?" Estava na praia mas fui. Nesse dia havia jogo de Portugal. Era Verão. O P. deixou-me um bilhete para quando eu regressasse a casa mas quando voltei ainda lá estava. Foram cinco ou dez minutos. Demos dois beijos em vez de apertarmos as mãos mas selamos ali um compromisso. Ficava até ver. A qualquer altura vinha embora. Podia ser logo a seguir. Mas fui ficando. E depois percebi que queria ficar para sempre. Afinal, o compromisso era para vida.
Hoje dói-me o coração, como me desejaste. Foi antes disso que vim embora, mas ele já estava partido, como o teu. Não posso dizer isto de outra forma. Esta dor é de falta e é física. Dói mesmo o coração. Mesmo que pense que pode um dia regressar. Não faço ideia como é que isto aconteceu. Como é que pessoas que são estranhas, são amigos e família e não sabemos levar a vida de outra forma. Foram dois anos. "E só é pena ter sido tudo tão fortuito."
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