E agora, o trânsito

Durante o mês de Agosto o meu percurso diário casa - trabalho - casa triplicou em quilómetros e tempo. Passei muito mais tempo no carro em deslocaçôes e ouvi todos os dias, pelo menos duas vezes, a informação do trânsito.

Com esta longa formação na matéria (quase um mestrado de Bolonha) posso garantir que as rádios variam entre duas ou três gravações que têm em arquivo desde 1990 e vão passando ora uma, ora outra para entreter a malta.

Não há dia nenhum que não se fale da segunda circular, da recta dos comandos da Amadora, do tabuleiro da ponte, A5, ic19, túnel do Grilo ou vci sentido Arrábida - Freixo, Nó de Francos ou saída da A3 como exemplos de bastante dificuldade, congestionamento ou caos.

Isso mesmo senhores da rádio, descobri-vos a careca. Não há nenhuma pessoa a olhar a sério pelo trânsito, nem se quer um bambi acabadinho de chegar, pois não? São gravações em repeat às nove e às cinco. Que coisa feia!


Será amor?

Só sei que até as buzinas da hora de ponta parecem cantar
E até o cheiro a gasolina emana um aroma de rosas no ar
E o shoping dos olivais lembra as luzes de Paris
E até as capas dos jornais vem que afinal o mundo é feliz.

Tem passado em repeat no rádio a banda sonora do filme "A canção de Lisboa" que estreou este Verão nos cinemas. Tinha bastante curiosidade em ver mas acabamos por adiar e agora já não sei dele (não deverá ser díficil de encontrar no entanto).

Em todo o caso, o que me trazia cá nesta bela tarde de terça-feira, em que só faltam quatro dias para o fim-de-semana (sim, eu sei) não era o filme, nem mesmo a música.  Eram as buzinas na hora de ponta, o cheiro a gasolina, o shopping dos Olivais e sobretudo as capas dos jornais.




As capas dos jornais da nossa casa dão notícia de uma família feliz.

Somos um pack de três espectacular. Mesmo.

O pai e a filha parecem dois tontinhos da mesma idade (talvez cinco anos); um trepa o sofá, o outro a parede; um deita umas gotas de água no chão, o outro entorna o copo. Sempre a brincar, uma casa circo.

Eu estou totalmente apaixonada pelos dois, individualmente e em conjunto. Enchem-me a vida de sol, de Natal, de chocolate. Dão sentido a tudo.

Eu e o P. eramos dois "mélecas" apaixonados que agora continuam apaixonados e melecas mas numa família. Foi o que nos trouxe a C., a família. Somos os mesmos miudos de há onze anos atrás mas agora nas fotografias temos um carrinho de bebé à frente. Adoro a nossa realidade.

Como adoro, adoramos na verdade, estar deitados na "caminha pai e mãe", aos saltos, às gargalhadas, no mimo. Há música sempre a tocar, ainda que quase de todas as vezes a do Panda, mas já decoramos as letras e quase que vibramos com os Caricas. Há brinquedos por todo o lado e bolas em todas as divisões. Há barulho sempre, de casa vivida e de família feliz. 

Se isto não é amor, não sei o que o amor é.

Muita calma nessa hora!

Confesso que já ando em pulgas a pensar no aniversário da C. - ainda falta mais de um mês mas não vale a pena mentir, eu sou A louca do dia de anos.

O ano passado fizemos um lanche em casa, depois de ter pendido para uma festa pic-nic, o que ainda bem que não aconteceu porque choveu todo o santo dia e além disso a C. estava doente, com febre e com tudo, coitadinha da minha bebé, no dia de anos, ninguém merece.

Este anos vamos estar todos bem e cheios de saúde e eu volto a dividir-me, desta vez entre uma coisa clean e uma cheia de bonecos.

No primeiro aniversário fizemos tudo em tons claros, super feminino, pastel, amoroso. Ficou perfeito, mesmo. Exactamente como imaginei. Sem tema, sem bonecos, tudo muito suave.

Este ano estou mesmo na dúvida. 
Posso repetir a dose e adoptar a mesma estratégia, com imagens diferentes, um mood board diferente, mas querido e doce.





Em alternativa, uma coisa com os bonecos de que ela mais gosta, o Panda, a Porquinha Peppa, o Tweety. 
É que por um lado, vai ter tanto tempo para crescer e ter bonecos, que podia aproveitar agora para estes looks mais clean. Por outro, quase que ouço a voz dela em histeria: "uuuhhhhh olha a ron ron peppa!!"





O que é bom dura o tempo... Blá, blá, blá; Tretas! As férias deviam durar para sempre

Tivemos exactamente quinze dias de férias de Verão por isso nem era bem de férias que ia falar mas ficamos um mês e meio fora de casa. 

Oi?

Isso; quinze dias de férias e depois um mês em que mudamos temporariamente de casa, para a de férias da família, e em que fomos e viemos do trabalho todos os dias. Aconteceu por isso algumas vezes chegarmos e irmos directos ao mar, com breve passagem em casa para vestir roupa adequada ao efeito.  Aconteceu várias vezes ficarmos na praia até depois das sete e meia. Aconteceu um mês em que já não eram férias mas ainda cheirava a maresia e se fechássemos os olhos com muita força e não nos lembrássemos dos pendentes todos para tratar, quase que ainda podiam ser um bocadinho férias.

Como tudo o que é bom, acabou-se a boa vida.
(Em coro: ooooohhhhh!)
Estamos de volta a casa, onde por acaso até há praia a dez minutos de bicicleta e começa oficialmente mais um ano à espera do Verão.

A parte boa é que é muito bom ir, mas voltar é maravilhoso.


Voltar a Lisboa

Calma; não é voltar - voltar, assim voltar mesmo com malas e bagagens e tudo. É só voltar de visita, aquele ir num pé e vir noutro, coisa de um dia.

Desde que saímos de Lisboa (fim de Março) voltei três vezes, em trabalho. Queremos muito voltar a passeio, num fim-de-semana inteirinho mas ainda não aconteceu. Fui e vim no próprio dia. Mas vou exactamente aos mesmos sítios, que coincidem exactamente com a zona onde vivemos e trabalhamos quatro anos. E é estranho. É como rever o melhor amigo da escola primária, aquela pessoa de quem um dia foste tão, tão próxima que nem havia espaço para respirar e que depois deixaste de ver e encontras passados vinte anos. É estranho mas confortável. É voltar a um sítio onde foste feliz e discordar em absoluto de quem diz que nunca devemos voltar a onde fomos felizes. Devemos sim.


Vamos falar de trabalho



Vou ser clara, directa, bruta: não suporto o meu trabalho.

Mudei de funções há dois meses e foi um erro tremendo. Ir trabalhar todos os dias custa-me horrores; acordo a pensar onde será que se entrega a carta de demissão; domingo depois de almoço já estou a sofrer por antecipação e sinto-me muito melhor agora depois de ter deitado tudo cá para fora.

A empresa onde trabalho tem no entanto coisas maravilhosas. O meu horário é muito bom, tenho imensa flexibilidade, as pessoas são simpáticos, há benefícios bons para as famílias and so on.

Não sei bem o que é preciso para não se deixar o trabalho - se basta que se goste de alguma coisa, por pequena que seja (a vista do escritório) ou se é mesmo necessário gostar-se daquilo que se faz. Ainda não me despedi por isso inclino-me para a primeira opção mas sofro um bocado com isso.

O meu trabalho é chato, não lhe rconheço qualquer mérito, não tem brilho, não vejo qualquer luz. Sei que ainda passaram apenas dois meses, que em termos de carreira não é nada, mas estou literalmente a bater com a cabeça na parede, sem saber bem quanto mais tempo aguentarei.

Claro que eu podia simplesmente mudar - admitindo que podia não ser assim muito díficil. Arranjava outra coisa que me dessse mais gozo, que fosse mais interessante ou pelo menos não tão insuportável (isso já aconteceu em outras alturas da vida). Podia fazer isso, podia. Mas depois perdia tudo o resto e é aqui que eu sei que para mim a carreira está tão longe de ser uma prioridade, que até a mim me surpreende um pouco. 

O horário que tenho, os dias de férias, a possibilidade de de vez em quando trabalhar em casa, a flexibilidade para tudo o que é preciso permitem-me estar mais perto da minha filha, mais disponível. Dá-me bons finais de tarde para brincar e muitos dias no ano para estar com ela. Não encontrava isto noutro sítio. E pelo menos para já tem sido o mais importante e o que me faz ir suportanto este trabalho de que não gosto. 

Tenho mais ou menos como dado adquirido que a generalidade das pessoas não gosta do trabalho que tem - oxalá esteja errada - o que faz com que me sinta menos extraterreste. Mas não posso deixar de pensar o quão frustrante é sermos escravos do dinheiro, das contas, das despesas e nos vermos obrigados a passar metade da nossa vida a fazer aquilo de que não gostamos.

(Ainda assim, e esta é seguramente a nota mais importante a retirar daqui, sem prejuízo de tudo o que disse: graças a Deus por termos trabalho).

Lembro-me mais vezes do que gostaria dos conselhos que me davam quando a minha filha era um bebé de meses. Não dos bons conselhos, mas daquelas coisas que ninguém perguntou mas há sempre alguém que faz questão de dizer.

Uma delas é adormecer ao colo.

Diziam-me que "não podia adormecer a minha filha ao colo porque depois ela habituava-se e não dormia de outra maneira e depois ficava pesada e já não podia com ela."

Foram mesmo muito raras as vezes que adormeci a C. ao colo, de tal modo que ela se habitou a adormecer na cama e quando tinha sono nem queria colo. Às vezes quem queria era eu e ela pedia cama.

Depois cresceu, tem quase dois anos, e há uns meses a esta parte só quer adormecer ao colo. Adormeço-a todos os dias como ela pede, deixei de ouvir os conselhos dos outros, e fico a pensar se, assim como assim, não teria sido muito melhor dar-lhe todo o colo do mundo desde o dia em que nasceu,

De onde é que vem essa ideia que as pessoas têm de que não devemos dar muito colo aos bebés?
Qual é o mal do colo?
Qualquer dia a minha filha tem cinco ou dez anos, não vai querer saber do colo para nada, se calhar nem de mim e as mães andaram preocupadas com regras e conselhos de colo a mais que já não têm qualquer valor.

Espero lembrar-me disto num próximo filho mas sobretudo ainda com esta filha sempre que pede "có mamã" - e pede muito - porque o tempo não volta para trás. E não anda, corre muito depressa.

Curso de iniciação à fotografia

No Natal passado o pai Natal perdeu as estribeiras, literalmente. Não só me deu uma máquina fotográfica que em linguagem de carros é um Ferrarri, como me trouxe o curso certo para o saber conduzir, que é como quem diz, um curso de iniciação à fotografia, com um mestre.

No início do ano passei assim uma semana em aulas teóricas, das sete às dez da noite, e um sábado inteiro na serra e na praia a treinar os conceitos.

Basicamente eu não fazia a mínima ideia como fotografar, pouco mais conseguia do que ligar a máquina e disparar em modo automático e depois descobri uma paixão imensa, o retrato. Fotografar a minha filha tem sido das coisas que mais prazer me dá. Apontar, focar, a luz, o enquadramento. E o resultado final. Acho que podia deixar tudo e dedicar-me a isto. Praticar, praticar, praticar, tirar milhões de fotografias por dia até serem perfeitas. Sem dúvida uma aposta ganha e agora já a pensar em algum próximo curso com especial foco no retrato, nas crianças e na família. Como esta.

Isso é impressionante!

Sábado passado às 18.40 h. eu estava a sair da praia.
Chegamos a casa, brinquei com a C. na cama durante mais de meia hora. Dei-lhe banho. Jantamos todos. Brincamos em casa porque estava frio para sair. Fui deitá-la. Ela adormeceu, eu fui dormir passadas algumas horas, dormimos todos. Acordamos às dez da manhã de domingo, vestimos, tomamos o pequeno-almoço, fomos à praia, brincamos no mar e na areia, fizemos um lanchinho, apanhamos sol, fomos para casa almoçar, lemos um livro, fomos tomar café, brincamos no chafariz, deitei a C. a dormir a sesta. Ela dormiu, eu li um bocadinho. Acordou às cinco, dei-lhe o lanche, fomos à praia, brincamos com os primos, saímos da praia, ela foi brincar a casa da madrinha enquanto eu me arranjei, dei-lhe banho, saímos para jantar fora. Fomos a pé e demoramos. Sentamo-nos na esplanada, pedimos.

Foi exactamente este o tempo que demorou ao P. fazer Porto - Sydney.
Fizemos dois parágrafos de coisas e ele metido dentro de um avião - ou três na verdade.

Dois pensamentos:
Primeiro, jamaia alguém me apanhará a fazer trinta horas de voo, nem bêbeda, nem drunfada nem coisa nenhuma.
(No entanto), segundo pensamento, como é que o neu marido foi à AUSTRÁLIA e eu estou aqui?!


Férias em família? Check!

No início do mês de Junho fomos uns dias à Irlanda. Fizemos as viagens de avião sem constrangimentos mas a aterragem em Portugal foi complicada para a C. O motivo, uma otite. Bastantes dores e "dói" e depois disso antibiótico.

Posto isto, quisemos repensar as férias de Verão. Tínhamos pensado em Tenerife e Palma de Maiorca, ambos a exigirem avião, mas acabamos pelo Sul de Espanha depois de uma viagem de cinco horas e meia de carro, feita de madrugada.

O que dizer das férias?
Maravilhosas!

Chegámos num sábado, hora de ponta máxima no check in, algum caos, imensa confusão. Deram-nos um quarto pequeno com uma janela com grades-tentação para a C. Molhamos os pés na piscina a medo, entre os milhares de pessoas, ao almoço a C. disse de tudo o que provou "não é bom" e não conseguimos dormir por causa de uma mega festa algures não sei onde, seguida de umas corridas de mota.

Sim, eu sei que disse que foram maravilhosas.

No dia seguinte pedimos para trocar de quarto. Deram-nos um enorme com uma varanda gigante de frente para o mar. A C. adorou a comida e pediu mais de tudo, a sopa era francamente boa. Era domingo e metade do hotel fez check-out, arranjamos as melhores espreguiçadeiras da piscina, a praia era um sossego, o tempo perfeito. Fizemos sestas de tarde todos os dias, nunca acordamos - os três! - de manhã antes das dez, comemos bem, o restaurante japonês era óptimo, o mar era a paz na terra e mau, mau só mesmo ter de vir embora.

Lá para Janeiro estaremos de certeza as marcas as próximas. Same time, time place.


De Agosto a Setembro

Não fiz esse exercício mas tenho a certeza de que todas as vezes que mencionei aqui a palavra "Setembro" foi para a associar a new beginnings. Virá talvez do tempo do regresso às aulas, mas há tanto de recomeço, de partir do zero, de começar de novo, que parece afinal que é um de Janeiro.

(Sim, eu sei que estamos em Agosto mas as férias já acabaram e podia muito bem ser Setembro).

Estou exactamente a rever tudo aquilo que queria mudar - que honestamente nesta fase era um tudo considerável, volta de 180 graus ou vira o disco e toca o mesmo e nada muda de lugar. A minha inércia, preguiça e estupidez são no entanto consideráveis e tudo seguirá como dantes mas fica a nota: há coisas que gostava mesmo de mudar.

Fazer exercício
Ter menos desgosto no corpo 
Menos vergonha na praia
Mudar de profissão
Ser mais activa
Menos preguiçosa
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Escrever muito mais