Dos quatro avós que tenho, há já vários anos que só convivo com dois, os maternos. Perder os paternos foi uma coisa da qual não quero falar.
A minha memória tem pedaços muitos estranhos, que se perderam sem eu saber porquê e há momentos que esqueci. Lembro-me que a minha avó materna se sentava sempre na mesma cadeira da sala e que o Natal se fazia ali, à volta dela. São as memórias mais nítidas que guardo, embora tenha outras. Estar naquela casa era uma brincadeira sem fim e naquele terreno inventamos mil e uma coisas que em nenhum outro lugar eram possíveis. Foi-se embora como todas as pessoas devem ir, enquanto dormia.
O meu avó paterno era, de todas as pessoas do mundo, aquela que, quando me via, dizia o meu nome (sempre o primeiro e segundo) com mais alegria. Recordo-me perfeitamente dele, mas aquilo que para mim era mais característico era a forma como dizia o meu nome, quase a cantar. Acho que ficava feliz. E eu também.
Quando se foi embora, a minha avó materna disse-me que ele agora era uma estrela e estava no céu a tomar conta de nós e essa foi a coisa mais bonita que alguma vez me disse.
Do meu avó materno há muito para dizer. Vou limitar-me ao que lhe disse quando fez 90 anos, que pode ser aquilo que se devia dizer de todos os avós,
(...)
Hoje, eu quero agradecer por um dia me teres ensinado que "a vida não é dos parvos", por me proporcionares grandes gargalhadas com esse grande sentido de humor, por me mostrares que a idade não é um posto, por me teres ensinado a importância do trabalho, por me dares um grande exemplo, por me transmitires valores importantes, como a honestidade, bondade, honradez, rectidão, por me teres provado que chegar aos 90 como se ainda se tivesse 50 é possível e não custa nada e por seres o meu avó. Hoje eu quero sobretudo agradecer por nos teres dado a nossa família. Que me permite crescer, que é a minha base de apoio, o meu exemplo de vida, o meu modelo a seguir, que me mostra a importância dos afectos, das relações, da amizade, da união, que me transmite princípios e me indica o norte; acima de tudo, obrigada por esta família perfeita, que me faz muito feliz. Ainda que eu tenha muito por que possa agradecer, na verdade não há nada por que esteja tão grata. E (quase) tudo graças a ti. Muito obrigada."
2 Coisas dos outros
Até tenho um nó na garganta...porque os meus avós maternos foram o meu norte, pois os meus pais separaram-se muito cedo e eu fui praticamente criada como filha dos meus avós e os meus tios maternos são como meus pais também. Dos meus avós paternos só sinto falta do meu avô, porque ele me amava, a minha avó paterna é viva mas nunca me amou, o meu avô paterno já se foi infelizmente. E o materno também, que era como se fosse o meu pai e eu assim sempre o chamei e ainda chamo a minha avó de mãe e a minha mãe de mainha. Enfim...hoje a única referência que tenho é a minha avó, a minha mãe e a minha mainha, porque o meu pai me renegou. Eu não desejo isso nunca a ninguém e só espero que o meu marido seja um dia um pai maravilhoso como o meu avô foi e que eu seja um pouco daquilo que a minha avó ainda é, uma alegria só embora a velhice esteja a lhe roubar a lucidez. Um beijo para ti e para todos os avós!
ResponderEliminarCisca, não sinta que fez mal em escrever porque tiveste coragem de escrever algo que por vezes eu não tenho. Este espaço é seu e por ser tão seu é que venho aqui porque me identifico também. Não se arrependa pois, aquilo que escreveu é muito bonito e merece ser lido por muitos que por aqui irão passar. Eu não estou triste, apenas me senti tocada e não pude deixar de comentar, peço desculpa por ter te dado a sensação de que fizeste mal, porque não foi isso que quis transparecer. Tambem guardo boas lembranças dos meus avós que se foram, bem como da minha linda que ainda está vivinha e que em breve poderei abraçar. Beijos!!!
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