Rotina (s)



Têm sido várias, e em diversas situações, as pessoas que me dizem que não gostam de rotinas, de fazer todos os dias as mesmas coisas, que não se podem imaginar em movimentos repetitivos, que as cansam.

Ave rara (uma vez mais) me confesso. Serei a única pessoa que (além de não ter facebook, o que por si só já é atestado de extra-terrestrismo) gosta particularmente de rotinas? Gosto de fazer as mesmas coisas diariamente, dos meus rituais rotineiros, das tarefas de sempre, de as fazer pela mesma ordem, muitas vezes às mesmas horas. Dá-me uma espécie de calma, de segurança.

Assim sendo, escolho a roupa de véspera, acordo todos os dias à mesma hora (às vezes, com alguma variação nos minutos, mas não sei se isso conta); tomo um banho, óleo hidratante; visto-me, abro a janela do quarto, quando passo pela cozinha, para colocar a toalha a secar, ligo a máquina do café; penteio o cabelo, dobro o pijama; tomo o pequeno-almoço que é sempre uma maça, cereais a café; faço a cama, arrumo a roupa do dia anterior; creme hidratante e pozinhos de perlimpimpim; às onze tomo sempre o segundo (que às vezes é terceiro) café da manhã; todas as quintas e terças almoço às 13.00 h. sopa e pão com queijo fresco, de sobremesa uma laranja, nos outros dias começo com sopa; a meio da tarde como sempre uma maça, uma pêra ou banana com um iogurte e só à noite, janto o que calha, mas nunca como nada antes de dormir; no ginásio corro na mesma bicicleta desde o primeiro dia e estaciono o carro no mesmo lugar; a primeira tarefa da manhã é abrir a agenda (em papel, claro), ver o e-mail e o jornal e podia continuar mais um bocadinho, mas se calhar começa a ficar estranho. 

Depois vem o fim de semana e, mantendo alguns pequenos rituais, altero outros, quase todos na verdade. Almoçamos quando temos fome, jantamos quando calhar e nem me lembro do roteiro diário. Mas à semana, volta tudo à linha e sigo o plano. Sem querer que isto pareça uma lei escrita em pedra, há dias em que as coisas correm de forma diferente (e nem tão pouco o posso controlar). Mas são a excepção.

Não sei que segurança é esta, que vem das coisas certas, mas não me aborrece, não me incomoda, nunca me dá vontade de a alterar. É tão certa e tão minha, que se calhar é por isso que a sinto tão confortável. Espero não sofrer de nenhum desequilíbrio emocional (ou doença do foro psíquico, para não estar cá com eufemismo), mas é assim que me sinto melhor. Organizada.

1 Coisas dos outros