Devaneios de dias à noite (4)



Esperamos cinco dias para contar. Cinco dias que em face de uma notícia tão importante pareceram uma eternidade. Claro que alguns sabiam. Há pessoas que sabem sempre. Mas aquelas que não tinham como saber, esperaram cinco dias, pelos quais não deram passar, até àquele dia.
Escolhemos um importante, de aniversário, para dar a novidade, convencidos que para eles seria tão enorme como para nós. O jantar decorreu com normalidade, eu em entusiasmo crescente mas a tentar manter a calma. Na sobremesa contamos finalmente. Eu com um enorme sorriso e sensação de ter libertado uma bomba. Mas não tivemos reacções. Ninguém se manifestou, ninguém ficou particularmente feliz, ninguém se levantou para dar os parabéns. Todos permaneceram sentados e quietos, como se aquela revelação se tivesse traduzido apenas num "há mousse de chocolate lá dentro." Esta foi a primeira demonstração de que não devo esperar tanto das pessoas, que as minhas expectativas sem sempre são correspondidas e o que é importante para mim, mesmo sendo grande, pode não ter importância para mais ninguém. Foi neste momento que eu me arrependi de ter guardado aquilo por cinco dias, de ter feito um esforço para o impacto ser maior, de ter escolhido um dia que não era igual aos outros, de pensar que ia fazer alguma diferença. Não devo esperar de mais, mas é o que acabo sempre por fazer. Defeito de carácter. Quem foi que disse que as pessoas valem a pena?

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