Coimbra tem mais encanto na hora da despedida
Quando
entrei na faculdade o meu objectivo número um era terminar o curso nos cinco anos sem percalços ou pedras no caminho. Sempre achei que devia fazer
todas as cadeiras no seu devido tempo: as frequências em Janeiro, os exames em
Junho e nada em Setembro porque já estaria tudo feito. Achei que, a ser assim,
isso bastaria. Agora vejo que avançar sem contratempos não é suficiente; ser
constante e regular não chega. É preciso mais. Acabei o curso em Junho do ano
em que o deveria ter feito, cinco anos depois de entrar. Nunca levei uma cadeira a
recurso e nunca nenhuma me acompanhou pela segunda vez no ano seguinte. Tive
férias de verão sem livros e férias de Natal e Páscoa a estudar. Fui a todos os
dias de todas as Latadas e Queimas; fui no carro e cartolei; fiz parte de uma
Tertúlia, não falhei o Baile. Fiz amigos, saí à noite e namorei. Fui também a
todos os dias de (quase) todas as aulas, teóricas e práticas. Na última semana
do curso fiz três melhorias e no último semestre cinco.
Mas agora vejo que não foi suficiente.
Passaram-me ao lado as tunas e o
fado, o NED, a DG, o ENED e o Erasmus; à parte de uma ou outra experiência, passei
ao lado de estágios de verão, estágios de curta duração, trabalhos em
part-time, voluntariado; deixei passar secções de jornalismo, teatro, música.
Fiz desporto mas passou-me a respectiva secção. Agora olho para trás e vejo
tudo o que poderia ter feito.
Quando entrei na faculdade achei
que o mais importante era o lado curricular: as aulas, os trabalhos, os exames,
as conferências. Agora percebo que o “extra” é tão ou mais relevante: as
actividades, os estágios, as experiências. Se pudesse voltar atrás teria
alterado o percurso. Não que me arrependa. Mas sei agora que o enriquecimento
do currículo corre a par e passo das notas e da média.
Licenciei-me há uns anos atrás e estou a trabalhar desde então. E por isso o meu conselho, se posso aconselhar alguém, vai
para quem está a começar e não para quem termina. Um: façam o curso; dois:
façam muito mais do que isso! Participem em actividades extra curriculares, em
música, teatro, politica, desporto, cultura, jornalismo, em encontros, em
vivências; estudem fora, vivam fora; procurem estágios de verão e inverno,
saídas profissionais, cursos de línguas, informática, jardinagem, costura;
façam voluntariado; acolham um estudante estrangeiro; fundem um clube; criem
uma banda; ganhem um prémio; participem no que houver para participar;
colaborem com a Universidade, a Faculdade, a Câmara Municipal; criem
projectos; tenham ideias!; mostrem ao mundo quem são! No fim de contas, vai
tudo valer a pena.
Quando fui para Coimbra, fui apenas para tirar um curso. Eu
estava errada. Hoje sei que ser estudante é muito mais do que
estudar.
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