Até quando ainda há tempo?



Há sete anos atrás (foi no dia 5 de Maio de 2005, eu sei) escrevi uma carta. Não foi uma carta de amor, mas de despedida. Estava formalmente a dizer-lhe adeus, embora a nossa despedida tivesse já acontecido anos antes. Escrevi doze páginas de carta, com histórias, com coisas nossas e a despedir-me. Mas nunca a entreguei.
Há dias voltei a encontrar essa carta, que guardo no meio de outra coisa qualquer. Mantém toda a sua actualidade, porque nunca nos chegamos a despedir, mas é tão antiga, tão de um tempo que passou há muito tempo, tão esquecida talvez. Sempre que me lembro, quero entregar-lhe ainda esta carta, quero que a leia, que perceba que me quis despedir. Que gostava de ti, mas não era amor. Achas que ainda a posso entregar? Será que algum dia a quiseste receber?
Ao longo dos anos fui-me lembrando de formas de a fazer chegar até ti. Havia o tradicional correio, o e-mail, a entrega em mão. Mas nunca encontrei forma, não soube realmente como e se o devia fazer. Principalmente, não tinha como saber se já te tinhas despedido de mim e o que seria reencontrar-me, mesmo que em carta. Fui adiando, é verdade. Fui adiando sempre e hoje vejo que, no lugar em que me pareceu passar algum pouco tempo, passaram já sete anos e agora é tarde de mais. Até quando ainda há tempo? Se me encontrasses, ainda querias saber o que tenho para dizer? Tenho a certeza que não. Por isso guardo esta carta mais sete anos ou até ao dia em que afinal ainda haja tempo para a ler.

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