Isto, Aquilo e um Bebé #3
"Em tempos achei que conseguia manter dois blogs em simultâneo (que ilusão..!) e criei o irmão Isto Aquilo e um Bebé. Durou seis meses e cinquenta posts. Depois faleceu, paz à sua alma.
Como o título indica, o tema central eram bebés. Começou quando ainda estava grávida e na última publicação a C. tinha sensivelmente quatro meses. Hoje lembrei-me dele e tiro do baú precisamente:
Para guardar para sempre
(Post escrito em Outubro de 2014)
Havemos ainda de falar do terceiro trimestre e das últimas semanas que pareceram durar mais do que toda a gravidez. Quem sabe não falamos também dos pés e mãos inchados, da pouca azia e da locomoção de caracol. Falaremos ainda certamente das maravilhas desta gravidez. Mas antes disso, o dia.
Começar por dizer que fiz a gravidez toda a 300 km. do meu médico e do local do nascimento. No início tivemos algumas dúvidas sobre a loucura desta decisão mas o tempo foi passando, as coisas a correr bem e nem deu para re-pensar a escolha. Fizemos todas as consultas, exames e análises e fomos acompanhados de perto pelo melhor médico de sempre. Hoje já podemos dizer que foi a melhor opção.
Por precaução, e depois de uma ida ao hospital com suspeitas de grandes contrações, decidimos mudar-nos para mais perto do local do acontecimento cerca de duas semanas antes do fim do termo. Just in case. Desde essa altura, as contrações reduziram brutalmente e nas consultas o médico ia dizendo que ainda não estava tão imediato assim.
No dia 6, com 39 semanas, o médico achou que estava tudo a postos, miúda pronta, tudo no sítio, e por isso sugeriu que nos apresentássemos ao serviço - diga-se no hospital - no dia 8 às dez da manhã, para pôr a coisa a andar.
Ora tudo muito bem.
O que fazem duas pessoas sensatas e normais? Vão descansar, sossegadas da vida.
O que fazemos nós? Metemo-nos no carro e toca a dar um saltinho a casa - a, repita-se, 300 km. de distância - para regressar no dia seguinte à tarde.
Em teoria o plano era bom: terça de manhã o P. tinha uma reunião, eu tinha de passar na empresa para fechar uns assuntos pendentes - naquele que seria o último dia de trabalho antes da bebé nascer - e por isso nada mais lógico de que atravessar meio país ao final do dia.
Chegamos a casa pelas oito. Fomos jantar a um restaurante de sempre, perto para não andar muito, namoramos o nosso sofá e a nossa casa e tudo a correr bem.
Até às sete da manhã.
Para pessoas como eu que se questionavam qual a diferença entre as contrações de treino e as de trabalho de parto e que ouviam de toda a gente "quando for a sério vais saber", é absolutamente verdade. Não há qualquer dúvida entre uma coisa e outra. De maneira que foi assim que acordei, com contrações à séria, com vinte minutos de intervalo. Toca de ligar ao médico, que naturalmente me manda de imediato Portugal a acima para ir ter com ele às 13:00 h. ao hospital. Voamos de casa em vinte minutos, depois de banhos, arrumos e carro carregado, A1 fora.
O que dizer?
Foi uma viagem super gira.
Contrações cada vez mais fortes, P. a cronometrar os intervalos e duração, aqueles cada vez mais curtos, esta cada vez mais demorada. Respira, respira, respira. Momento para pensar que talvez não chegue a tempo e ela nasça algures em Fátima, Leiria ou Coimbra, num hospital qualquer ou mesmo no carro, sem o meu médico querido do coração, talvez à mão de um bombeiro ou do pai. Capas de jornais do dia seguinte: casal de ideias estranhas tem filho em plena auto-estrada.
Calma. Respirar fundo.
O P. é o melhor condutor do mundo e leva-nos sãs e salvas. A meio do caminho tinha a certeza que chegaríamos a tempo.
Parar então para o pequeno-almoço numa área de serviço da A1. Comer metade de um pão com queijo entre duas contrações e seguir viagem. Mais tarde iria arrepender-me de não ter comido mais.
A 10 km. do destino, contrações com 6 minutos de intervalo e bastante tempo antes da hora combinada com o médico, diz-me que é melhor ir ter com ele ao hospital onde está. Não é este o meu hospital. Receio ficar já ali. Vem buscar-me ao parque de estacionamento para me levar para exame. Chama a anestesista e manda-nos aos três - nós as duas e o P. para o nosso hospital fofinho onde a miúda ia nascer.
Dar entrada por volta do meio dia.
Ligar finalmente aos pais para dizer que "afinal não estou na empresa como te disse há 150 km. atrás mas acabo de dar entrada no hospital. Por favor traz a minha mala e a da bebé. Nasce hoje."
Encaminharam-me para o quarto, conheci a parteira - pessoa mais anjo da guarda de sempre - instalei-me confortavelmente, contrações cada vez mais fortes, dores à mistura até chegar a tão bem dita da epidural e se ter feito sol na minha vida. Zero dor a partir daí. Resto de manhã / início de tarde confortável, com direito a soninho e tudo. Uma paz. Uma calma. O melhor hospital de sempre, com as melhores pessoas, tão queridas, tão prestáveis, tão atenciosas.
Por volta das três da tarde, a parteira que me foi examinando diz que vai reunir a equipa para irmos para a sala de partos. Então? Já? Passa o meu médico para ver o estado de alma, dá-me um até já e de imediato preparamos tudo para descer.
Neste instante o P., que até à data não ia assistir, decide ir também. Uma surpresa mais do que especial. Já disse que tenho o melhor marido do mundo e que o grande feito da minha vida foi ter casado com ele?
Depois de descermos até ao destino, consegui manter a calma até ver a luz gigante e redonda da sala de partos. Nesse momento comecei a tremer um bocadinho. Estava bem e sem dores mas algo tremelicante.
Ajudou no entanto o ambiente descontraído do bloco. Médicos e enfermeiras em modo piadas, tudo na maior descontração, tipo esplanada de praia. No meio disto alguém diz para fazer força. A parte famosa dos partos. Foram duas ou três forças e de repente um bebé a chorar. São 15:52 do dia 7 de Outubro de 2014 e a nossa vida mudou para sempre.
Cinco segundos de mundo parado.
O P. corta o cordão e dão-nos no colo a nossa filha. A nossa filha. Alguém acredita nisto?
Em teoria o plano era bom: terça de manhã o P. tinha uma reunião, eu tinha de passar na empresa para fechar uns assuntos pendentes - naquele que seria o último dia de trabalho antes da bebé nascer - e por isso nada mais lógico de que atravessar meio país ao final do dia.
Chegamos a casa pelas oito. Fomos jantar a um restaurante de sempre, perto para não andar muito, namoramos o nosso sofá e a nossa casa e tudo a correr bem.
Até às sete da manhã.
Para pessoas como eu que se questionavam qual a diferença entre as contrações de treino e as de trabalho de parto e que ouviam de toda a gente "quando for a sério vais saber", é absolutamente verdade. Não há qualquer dúvida entre uma coisa e outra. De maneira que foi assim que acordei, com contrações à séria, com vinte minutos de intervalo. Toca de ligar ao médico, que naturalmente me manda de imediato Portugal a acima para ir ter com ele às 13:00 h. ao hospital. Voamos de casa em vinte minutos, depois de banhos, arrumos e carro carregado, A1 fora.
O que dizer?
Foi uma viagem super gira.
Contrações cada vez mais fortes, P. a cronometrar os intervalos e duração, aqueles cada vez mais curtos, esta cada vez mais demorada. Respira, respira, respira. Momento para pensar que talvez não chegue a tempo e ela nasça algures em Fátima, Leiria ou Coimbra, num hospital qualquer ou mesmo no carro, sem o meu médico querido do coração, talvez à mão de um bombeiro ou do pai. Capas de jornais do dia seguinte: casal de ideias estranhas tem filho em plena auto-estrada.
Calma. Respirar fundo.
O P. é o melhor condutor do mundo e leva-nos sãs e salvas. A meio do caminho tinha a certeza que chegaríamos a tempo.
Parar então para o pequeno-almoço numa área de serviço da A1. Comer metade de um pão com queijo entre duas contrações e seguir viagem. Mais tarde iria arrepender-me de não ter comido mais.
A 10 km. do destino, contrações com 6 minutos de intervalo e bastante tempo antes da hora combinada com o médico, diz-me que é melhor ir ter com ele ao hospital onde está. Não é este o meu hospital. Receio ficar já ali. Vem buscar-me ao parque de estacionamento para me levar para exame. Chama a anestesista e manda-nos aos três - nós as duas e o P. para o nosso hospital fofinho onde a miúda ia nascer.
Dar entrada por volta do meio dia.
Ligar finalmente aos pais para dizer que "afinal não estou na empresa como te disse há 150 km. atrás mas acabo de dar entrada no hospital. Por favor traz a minha mala e a da bebé. Nasce hoje."
Encaminharam-me para o quarto, conheci a parteira - pessoa mais anjo da guarda de sempre - instalei-me confortavelmente, contrações cada vez mais fortes, dores à mistura até chegar a tão bem dita da epidural e se ter feito sol na minha vida. Zero dor a partir daí. Resto de manhã / início de tarde confortável, com direito a soninho e tudo. Uma paz. Uma calma. O melhor hospital de sempre, com as melhores pessoas, tão queridas, tão prestáveis, tão atenciosas.
Por volta das três da tarde, a parteira que me foi examinando diz que vai reunir a equipa para irmos para a sala de partos. Então? Já? Passa o meu médico para ver o estado de alma, dá-me um até já e de imediato preparamos tudo para descer.
Neste instante o P., que até à data não ia assistir, decide ir também. Uma surpresa mais do que especial. Já disse que tenho o melhor marido do mundo e que o grande feito da minha vida foi ter casado com ele?
Depois de descermos até ao destino, consegui manter a calma até ver a luz gigante e redonda da sala de partos. Nesse momento comecei a tremer um bocadinho. Estava bem e sem dores mas algo tremelicante.
Ajudou no entanto o ambiente descontraído do bloco. Médicos e enfermeiras em modo piadas, tudo na maior descontração, tipo esplanada de praia. No meio disto alguém diz para fazer força. A parte famosa dos partos. Foram duas ou três forças e de repente um bebé a chorar. São 15:52 do dia 7 de Outubro de 2014 e a nossa vida mudou para sempre.
Cinco segundos de mundo parado.
O P. corta o cordão e dão-nos no colo a nossa filha. A nossa filha. Alguém acredita nisto?
O meu corpo cria de imediato um segundo coração para abarcar o amor gigante que se sente pela nossa nova pessoa. Somos três e eu tenho dois corações para os meus amores maiores.
Saio da sala de parto com a bebé ao colo, que já vai a mamar.
Os exames mostram que está tudo bem e eu agradeço a Deus pela saúde, que é o nosso maior bem.
Vamos os três para o quarto e a nossa vida re-começa agora.
Daqui para frente só podemos ser felizes para sempre.
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