Escrever hoje para não esquecer! (Fingers crossed!)

Como tinha escrito o mês passado, o processo de adaptação à escola não correspondia ao que achávamos que deveria acontecer (não por ser o “normal” mas por ser aquilo que desejávamos). Estava a causar-nos, aos três, ansiedade e algum sofrimento, mais irritabilidade, mais cansaço. Havia menos tranquilidade e paz.

Percebemos que forçar a situação não estava a trazer frutos e como tal decidimos mudar de estratégia. Se numa primeira fase achamos que, volvido um determinado tempo acabaríamos por desistir da escola, percebemos que poderia ainda haver um caminho a fazer antes de chegar a esse ponto e foi isso que tentamos.

Começou por perceber que o problema não era a escola em si, no geral, mas algum factor em particular. Em conversa com um profissional, foi-nos sugerido que o factor desestabilizador fosse a hora de almoço mas, porque ninguém conhece os filhos tão bem como os pais, percebemos que na verdade esse elemento estava relacionado com a sesta.

Desde o dia em que a C. nasceu e até ter interiorizado perfeitamente a diferença entre o dia e a noite, dormia as sestas na sala, com luz, e as noites no quarto às escuras. Mais tarde, por volta dos sete meses, distinguindo perfeitamente as sestas dos sonos, passou a dormir no quarto quer à tarde, quer à noite, em ambos os casos em silêncio e sem luz. Vamos dizer que leva quase três anos de sono sossegado, sem barulho, sem luz, sem interrupções.

Isto fez com que ela dormisse sempre bem, mas faz também com que não durma em qualquer lado ou de qualquer forma. Tem os requisitos e necessidades dela, que nós respeitamos e por isso não é fácil vê-la a dormir na praia, na beira da piscina ou em plena rua, como se vê a algumas crianças. A nós isto não nos traz qualquer limitação logística, na verdade nunca foi um problema.

Percebemos no entanto que estava a ser um problema para ela na escola fazer a sesta como eles fazem. Uma sala cheia de meninos, em que uns choram, outros falam, há barulhos, eventualmente alguma luz. Conseguimos perceber que a hora da sesta estava a comprometer também a hora do almoço, porque associava uma coisa à outra e sabia que, imediatamente apos comer, seguiam para a sala de dormir. Por este motivo, mal almoçava. Sabíamos também que, terminada a sesta, as tardes corriam muito melhor do que o resto do dia. Várias vezes a professora nos disse que ela “parecia outra” de tarde.

Chegamos por isso ao ponto em que identificamos como elemento problemático no processo escola a hora da sesta e que por isso uma alteração a esse nível se impôs.

Começou no dia em que regressou à escola após duas semanas em casa com gastroenterite. Como sempre faz, perguntou quando acordou de manhã se ia à escola. Dissemos que sim. Em lágrimas perguntou se ia dormir na escola e formalizamos naquele momento a nossa decisão: não, se não quiseres não dormes na escola. Esta resposta teve o efeito de a fazer parar de chorar imediatamente, como que por magia.

Desde esse dia nunca mais chorou por saber que ia à escola, nunca mais chorou ao ficar na escola, nunca mais fugiu ou se recusou a ir.

Na verdade, pergunta se vai e se dorme e se sabe que não dorme mostra até vontade em ir, desde já ter entrado na escola a correr, como a fazer corridas a ver quem chega primeiro para tocar na campainha, como até ter cantado “eu vou para a minha escolinha” numa dessas manhãs.

Talvez ainda seja cedo para conclusões (é certamente, passou apenas uma semana) mas a verdade é que notamos todos os dias a diferença entre o antes e o agora e estamos todos muito mais descansados. Pessoalmente sinto que já posso respirar.


Naturalmente que esta solução só é possível porque temos flexibilidade de horários, porque o pai pode assegurar uma hora da sesta e eu outra, porque a escola fica a 1 minuto de casa e 10 do trabalho e sobretudo porque, a manter-se mais tempo, eu estarei de licença até ao final do ano lectivo o que facilita. Em todo o caso, não temos prazos nem metas e só queremos que ela esteja bem por isso será sempre um dia de cada vez. Para já, estamos bem.

1 Coisas dos outros

  1. Que bom que conseguiram perceber onde estava o problema e que conseguiram arranjar uma solução! <3

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