Casa #1

Por razões de que falaremos mais adiante, esta é exactamente a altura para passar em revista as casas da nossa vida.

Vou saltar aquele momento, sair da casa dos pais e chegar a universidade, porque a casa não era bem nossa (do P. e minha), apesar de todo o tempo que lá passamos e Deus sabe que foram cinco anos muito felizes.

Depois de casarmos fomos directos para Lisboa.
O processo de procura de casa foi bastante demorado mas a verdade é que conhecíamos mal a cidade e nem sabíamos bem onde queríamos morar - a excepção do Parque das Nações, que era o nosso objctivo mas nessa altura um desejo que não podíamos concretizar.

Lisboa, dizia eu, e ao fim de algumas visitas acabamos por encontrar um T2 na Alta, novo, boa construção, simpático.

A casa estava mobilada - o que achávamos era uma vantagem - mas depressa percebemos que nada daquilo tinha alguma coisa a ver connosco. Começamos por decidir mudar (só) o sofá.

Esta mudança, sem sabermos bem como, despoletou a mudança da casa toda. Compramos mesa de centro, móvel de televisão. Depois a mobília da sala de jantar, na 8&80 de Campo de Ourique. Foi também aí que compramos os candeeiros das nossas mesinhas de cabeceira. Aqui entramos no quarto e tudo o que la estava foi completamente substituído. Passamos depois para o escritório, com secretária, estante e um sofá cama para a visita da família que fazia 400 km. para nos ver.

O primeiro mês a viver na casa nova foi muito difícil para mim.
Primeiro porque tinha acabado de chegar a Lisboa, que praticamente não conhecia (as idas ao jardim zoológico e à Expo98 não contaram); depois porque não tinha emprego e sentia-me presa numa jaula todo o dia.

Foi em pequenas saídas durante o dia na zona que percebemos que não podíamos continuar ali.
O ambiente era pesado, mal frequentado, perigoso até (com assaltos, tiroteios). Deixei praticamente de sair sozinha, salvo descer para comprar pão e talvez tenha sido isso que tornou aquele mês tão complicado.

Li no entanto nesse mês mais do que em qualquer outro; escrevi mais do que em qualquer outra altura. E é engraçado recuperar um pouco desses tempos, e dos imediatamente anteriores, com todo o processo de mudança de casa (viva o blog e os seus quase cinco anos de vida!).

Fomos viver para essa casa em Setembro de 2012 e em Abril de 2013 já lá não estávamos. Entretanto eu consegui finalmente encontrar trabalho em Outubro - o mês mais longo de sempre - e o processo de procura de casa começou no final desse ano - destino: Parque das Nações (havemos de falar da casa #2).

Passamos o nosso primeiro Natal de casados na casa da Alta.
A compra das nossas primeiras decorações de Natal foi um marco importante. A compra das primeiras coisas de tudo, na verdade, aconteceu ali e perduram hoje.

Foi daquela casa que saímos para a nossa primeira passagem de ano como casados. Fizemos ali um aniversário do P. Recebemos para jantar vários amigos. Recebemos para dormir várias vezes a nossa família.

Foi desta casa que descobrimos Lisboa, os restaurantes, os bares, os brunchs, as zonas, os jardins, as lojas, a Baixa.
A vantagem de estarmos numa zona desconfortável - e creio que já escrevi sobre isso - aqui está - é que somos forçados a sair. Nunca nos mexemos tanto como naqueles meses. Vivíamos muito a casa mas muito pouco o sítio onde ela estava - uma ou outra ida ocasional à Quinta das Conchas e pouco mais.

Aos poucos foi ficando a nossa casa. Com quadros, molduras, fotografias, apontamentos nossos. Era confortável e tem sem dúvida hoje um significado muito especial.

Quando lá entrei, pronta para ficar, tinha um presente de boas-vindas que nunca mais vou esquecer, a minha bicicleta, para que a nossa vida corresse sobre rodas. Começou ali e sem dúvida tem corrido.

Da nossa primeira casa mudamos para aquela onde vivemos todos os outros anos em Lisboa e que tem um lugar gigante no meu coração. A casa onde nasceu a C. e casa de onde saímos para o Porto. Mas sobre isso falamos depois.


A decisão de mudança de casa foi pacífica e muito desejada. A concretização nem tanto. Nas vésperas, o P. fotografava tudo o que via, cada canto, cada parede, as janelas, as portas. Queremos guardar esta memória na partida para novas mas será sempre a primeira. Não me deixa tristeza ou mágoa mas se pensar bem..
Foi para aquela casa que fomos depois do casamento, foi onde recebi uma surpresa cor de rosa em duas rodas, onde tirei um curso de espanhol, onde encontrei trabalho, onde fizemos o primeiro jantar do primeiro sábado de cada mês e recebemos amigos, a casa onde a Alzira foi morar, onde o Martins morou, a casa que tinha um moquifo com que ninguém concordou mas cujo nome veio para ficar, a casa onde soube que a agregação estava feita, onde partimos para Palma, para a Dinamarca, para a Madeira e para o México e onde quisemos regressar, de onde saímos para dias importantes, onde fizemos a primeira casa Natal e tivemos a nossa casa.

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