Devaneios de dias à noite (8)
Pego no lápis com que começo a escrever e tudo pára. O tempo, o som. Quando escrevo só sou eu e o papel. Este lápis velho traz-me à memória as recordações da infância, quando cada viagem era um novo presente. Este lápis veio de Paris romanceado pela Primavera. Ainda frio mas já tão aconchegante e em flor. Entraste na pequena loja da ilha e pediste o lápis mais bonito que tivessem. Entregaram-te a tão tradicional torre Eiffel e fizeste a tua cara de pai. Não podia ser certamente o mais bonito que vendiam. "Este lápis vai contar o mundo e a vida. Tem de ser o mais bonito." Um senhor mais velho, sentado ao fundo, levantou-se para tirar de uma prateleira este lápis dourado, comprido e fino, de bico afiado e entregou-mo a mim. Saímos da loja de braço dado e pude ouvir-te dizer que com ele talvez escrevesse "a primeira palavra do teu livro."
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