Esta sou eu


Não é que ainda não me tenha apercebido que vou embora, que já apercebi (e mesmo que não, as malas, sacos e tralha espalhadas pelas casa lembram-me constantemente que está quase), mas há mais. Há pessoas que fazem questão de mo dizer. Não é por mal; antes pelo contrário. Mas se eu rebentar num choro pesado, que ninguém se admire, por favor.

Ontem foi um dia difícil. Comecei a tarefa das malas mas não avancei praticamente nada. Fiquei a olhar para os armários e gavetas com ar de quem "vocês estão tão bem aqui, para quê irem embora?" e a coisa não se deu como o esperado. Tentei traçar um plano e começar por aquilo que me custa menos e põe sentimentos menos fortes à flor da pele. Empacotei então os livros. Mas no fim acabei por ter de sair de casa, espairecer, que foi pior do que pensava. Não fiz mais nada; aliás, até fiz: escolhi os sacos onde vou arrumar as roupas e a vida, mas dos pequenos. Nem pensar nas malas grandes de viagens, que são enormes e não fica cá nada. Vamos com calma, em sacos de viagem pequenos. Ali ficaram e ali estão, no canto do quarto, para a tarefa de hoje à tarde.

O pior foi a noite.
Todas as terças-feiras, desde há vários anos, um tio vem cá a casa pela hora de jantar e por aqui ficamos todos, à mesa, à conversa, algumas horas. Ontem quando se foi embora disse-me (acho que com lágrimas nos olhos, mas não garanto): "Fico muito comovido por pensar que esta é a última terça-feira. Nunca esquecerei estes convívios." E pronto, contei até quinze porque não me apetecia pôr num pranto mas custa-me que todos se apercebam que vou embora. Já de manhã tinha tido um momento de despedida de alguém (e de um sítio) muito especial; já de manhã alguém me disse que "vai ser estranho, não te ter aqui todos os dias", e não gosto disto. Queria ser uma pessoa normal que não se abala tanto mas não consigo. Despedir-me de pessoas muito queridas, fazer malas e ouvir aquilo do meu tio é muito. Sou uma piegas, eu sei. Mais tarde a minha mãe disse-me que as pessoas normais também choram. Se pensar friamente no assunto vejo que não há motivo. O problema é que eu não sou fria. Sou um coração mole, uma lamechas chorosa e apego-me tanto a tudo que dizer adeus é como perder um membro.

Hoje durante o dia acabo as arrumações, que o carro parte amanhã com tudo. Não tendo plano, começo outra vez com o que custa menos: primeiro os sapatos, as echarpes e as malas; depois os acessórios e a roupa e por último as coisas que não têm género mas que guardo como se fossem gente. À noite terei perdido o corpo e a alma, porque dizer adeus é imensamente doloroso.

2 Coisas dos outros

  1. Começar algo novo da imenso medo, porque não conhecemos o futuro e não sabemos se sera tão bom quanto a nossa vida atualmente, mas se tu não acreditasses nisso com certeza não casarias. Por isso, compreendo-te e sei como custa, mas esta sera uma nova etapa da tua vida e havendo comprometimento, respeito e muito amor, tudo dara certo e seras ainda mais feliz. Tenho a certeza que eh o que todos aqueles que tu amas e que te amam desejam para ti.
    Ainda bem que tens refletido e com calma tens aceitado cada passo que estas a dar.

    Torço por ti.

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  2. Oh minha querida, muito obrigada pela força. As tuas palavras deixam-me muito feliz, acredita! Um beijinho grande.

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