Não foi o que combinamos, mas o amigo S. Pedro fez o favor de começar a mandar chuva a partir das três da tarde (o casamento estava marcado para as cinco e meia). Eu no cabeleireiro, a ver pela janela e a chorar tanto como a chuva. Fiz a viagem até casa num pranto. Mas cheguei e pensei "bem, que se há-de fazer? Paciência!" Sorriso na cara e vamos embora. Maquilhagem, vestido, fotografias. Tias a entrar, tias a sair, uma choradeira pegada, tudo muito emocionado. Pais e irmão prontos, os meus meninos das alianças lá em casa, a minha maquilhagem já a pedir socorro, mais fotografias. Por lá ainda passou a madrinha, mesmo antes de eu beber um shot de vinho do porto (ritual de passagem), não vão os nervos atrapalhar e vamos embora para a igreja. Chuva a sair do carro (mas obrigada à Tia M., que me emprestou um guarda-chuva de princesa, branco, com direito a folhos e tudo), chuva na porta da igreja, alinha à direita do pai e siga até ao altar. Uma emoção inexplicável. Nem conseguia ver ninguém. Lá ao fundo, muito ao fundo, o P. (a igreja mede 50 metros e sou míope, não sei se isto explica alguma coisa), lindo de morrer, eu super feliz, mesmo, genuinamente, toda sorrisos e emoção. A cerimónia foi muito especial (à excepção do coro se ter enganado numa música - que quis o destino fosse a música). Foi perfeita e eu chorei praticamente o tempo todo, vá-se lá saber porquê. As minhas amigas fizeram o mesmo e dos outros nada sei. Mas eu tinha ali tudo à flor da pele e vi-me forçada a pedir um lenço à minha mãe, que generosamente me auxiliou. Leram as minhas duas meninas e os meus sete meninos, numa coisa muito intimista, mesmo bonita. O padre é a pessoa mais querida que já vi e parecia tão feliz como nós. Quando fomos assinar já mal sabia o meu nome. À saída da igreja, capas negras no chão, como manda a etiqueta e eu feliz da vida, que era uma coisa que queria muito mas não ia pedir. Chuva, muita chuva no adro da igreja, uma explosão de papéis (obrigada, M. e V.), imensos flashes, um momento em cheio. Toda a gente a cumprimentar, mesmo com aquele tempo, confusão de cabeças e guarda-chuvas, abraços apertados, desejos de felicidades, vamos embora que chove muito, mas ninguém queria saber e eu também não. Só o meu vestido, já feito em água, que era muito comprido. Seguimos para a quinta (que escolhemos a dedo a pensar no sol) e o tempo não dá uma aberta, nada, chove sempre, constantemente. Ficamos na escadaria da entrada (com dois rapazes super fofos a segurar-nos o guarda-chuva) a receber os convidados e a partir daí passou tudo num ápice. Bem tinha razão quem me dizia que é tudo um instante. Entre entradas que quase não vi, jantar que praticamente não comi, bebidas que pouco bebi, estávamos no corte do bolo, que se seguiu de um grupo de fados, acompanhado do meu choro uma vez mais. Surpresa dos pais (obrigada!), bem recebida por todos, nomeadamente quem estudou connosco e se juntou a entoar estes cânticos tão familiares. Foi perfeito. Valsa de seguida, que correu melhor que os treinos em casa (somos ou não somos uns excelentes bailarinos?), a nossa banda do coração e a partir daí música a noite toda, até ser de manhã. O dia para mim tinha começado às nove e quando nos fomos deitar já passava das sete. O casamento durou das cinco e meia da tarde até o sol raiar, choveu sempre e foi absolutamente perfeito. Quando acordamos estava sol! Mas lembro-me de ter pensado que aquele foi seguramente o melhor dia de sempre!