Eu que falava em relativizar...

Estou sempre a agradecer pela sorte que temos, pelas minhas filhas, o meu marido, a nossa família, pela bolha de sorte e bênção em que vivemos. Sempre, sempre, sempre. Tenho isso na cabeça todos os dias. Estou grata, sei a sorte que tenho. Este é o meu lado consciente e racional.

Nem sempre este lado ganha aos macacos do sótão. 
Às vezes os nós cerebrais ganham.
Há coisas sem nenhuma importância racional que me deixam à beira da loucura neurótica, ao lado de crises nervosas, coisas que nem sei explicar. São coisas psíquicas mas que me afectam fisicamente (palpitações, suores, vómitos, dores de barriga, o resto não conto). E quando isto acontece penso, és tão estúpida que nem há explicação para ti. Olha para bem para as tuas filhas, olha para a tua família, vê a tua vida. Será que isso é alguma preocupação de jeito? A nossa cabeça tem destas coisas (e há dias dizia que ia procurar terapia para desfazer os nós). Coisas tão estúpidas. Como aquela tarde em que cheguei ao andar de baixo que tem metros de armários embutidos e a nossa mala grande das férias estava totalmente coberta em bolor. Se isto é importante? Não é. É só uma mala, um pedaço de tecido, tem mais de dez anos (embora uso bi-anual). Que importância tem? Consegues limpar? Recupera-se? Deita-se ao lixo? Que importa o bolor dos tecidos quando temos saúde? Digo isto para me convencer, no outro lado do cérebro fiquei KO. E naquelas primeiras horas pós facto, nem se quer consigo relativizar o que quer que seja, é só um pânico generalizado por uma coisa que não tem importância alguma mas que por momentos parece ser a única coisa de que a minha vida é feita. Como se ultrapassa isto? Medito? Faço terapia? Penduro quadros na parede que digam "isso não é importante, limpa o sótão, não sejas estúpida, agradece" ? Eu sou grata. De tudo o que é loucura na minha cabeça (e às vezes é muita), é muito real o estar grata. A nossa vida é maravilhosa. Obrigada às minhas filhas. Obrigada à minha família. Obrigada ao meu marido a quem não digo vezes suficientes o quanto me equilibra, me põe no sítio, me torna evidente o felizes que somos e quão parva eu sou - neste mês em que fazemos oito anos de casados e em todos os dias do ano - que era de mim sem ele?

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