A história de uma memória que se perdeu na falta de sono

A minha memória sempre funcionou bastante mal para acontecimentos passados a longo prazo mas era absolutamente fantástica para tudo o que havia de vir. Conseguia lembrar-me de tudo o que ia acontecer, sem recorrer a qualquer auxiliar. Tinha datas e prazos na cabeça. Lembrava-me sempre de tudo. O P. dizia-me que eu era uma espécie de agenda portátil, totalmente confiável; a verdade é que não falhava com nada.

Depois tive filhas.

Diz que se doam neurónios no processo da gravidez e eu já passei por duas. Acredito que a partilha deixou a minha cabeça mais vazia nesta matéria. Mas nem se quer queria responsabilizar a gravidez. Muito menos as minhas filhas.

O que acontece na presente data é que há quase um ano que não durmo mais do que três horas seguidas. Seja porque devia deitar-me às dez da noite (mas não acontece), seja porque me levanto duas, três, quatro, cinco, dez vezes por noite. Basta que uma das miúdas chame a meio da noite (mas na verdade elas revezam-se muitas vezes e é ora uma ora outra e uma mãe a fazer piscinas) para que se interrompa o ciclo e passe por todo o acordar - levantar - ir ao quarto de quem chama - ficar - voltar - adormecer. Para muitas vezes passado uma ou duas horas acontecer tudo outra vez.

Sei que quando digo que não durmo à noite, quem me ouve desvaloriza. Seja o meu homem, que dorme a noite inteira e tem a sorte imensa do sono pesado não ser afectado pelo chamar das crianças, seja por exemplo a minha mãe. As pessoas não entendam, não acreditam, não processam que efectivamente há quase onze meses que as minhas noites são assim. Não sei, não me lembro do que é dormir cinco horas seguidas - e Deus sabe como eu preciso das sete!

Repito que a culpa disto não é das minhas filhas. Geralmente às nove e meia estão as duas a dormir e o ritual do ora acorda uma ora acorda a outra em regra começa mais pelas duas ou três da manhã. Quer isto dizer que em limite eu poderia ir deitar-me às nove e meia ou dez e dormir talvez quatro a cinco horas. A verdade é que não é isso que acontece. Se nos formos deitar às onze e meia, já acho uma vitória. 

Todos os dias digo a mim mesma que me vou deitar mais cedo porque preciso efectivamente de dormir mas não acontece. 

O que acontece sim é que alguns pontos da minha vida saem prejudicados com isto e o mais gritante de todos é o funcionamento da minha memória. Esqueço-me de imensa coisa e começa a ser preocupante. Preocupada é aliás dizer o mínimo quando:

- Na segunda-feira da semana passada cheguei à escola com a C. e a turma dela estava a sair da sala para fazerem uma visita a Serralves, visita essa que eu autorizei a ida e sabia que ia acontecer mas de que me esqueci total e absolutamente;

- Na terça-feira da semana passada cheguei às dez e meia da manhã ao trabalho e falhei uma reunião que tinha agendada para as nove, reunião essa que eu sabia que tinha mas de que me esqueci total e absolutamente, uma vez mais.

E isto para não dar mais exemplos.

Tripliquei a redundância dos avisos aos compromissos e é ver agora consultas em três agendas diferentes, festas em três agendas diferentes, reuniões de trabalho em quatro. Bati mesmo no fundo quanto à falta de responsabilidade e estou muito preocupada. Uma coisa é preparar um almoço, pôr mesas, ter comida para dez e esquecer-me de convidar as pessoas; isto é todo um outro campeonato.

Durante a licença tive um episódio de enxaqueca, coisa que nunca em toda a vida me tinha acontecido (e que não recomendo, nem os olhos conseguia abrir), que só passou quando ao fim de dois dias a sofrer em casa, me forcei a ir ao hospital para ficar a medicação intra venosa. O médico que me atendeu disse-me com todas as letras que tinha de me obrigar a dormir (estava na fase de dar de mamar de noite mas não aproveitar para descansar de dia) e eu acho que na altura ouvi mas entretanto, lá está, devo-me ter esquecido. Há alturas a meio da noite que me sinto tão, tão derrotada quando me levanto pela enésima vez, que juro que vou desatar num pranto a qualquer momento. Não tem acontecido mas, confesso, estou exausta com a falta de sono.

Depois no meio disto tudo, lembro-me muitas vezes que há pais e mães que acordam de meia em meia hora porque os filhos simplesmente não dormem e que a mim só me acontece levantar-me duas ou três vezes. Continuo aliás a achar que somos uns sortudos no que respeita aos sonos das nossas filhas (e digo isto com toda a sinceridade!). Mas que tem feito desaparecer a minha memória aos poucos? Do que me lembro, sim.

4 Coisas dos outros

  1. Não sei como ajudar :( mas acredito que seja terrível. Eu quando durmo menos de 4 horas de um dia para o outro, já ando tipo zombie quanto mais todos os dias :(

    ResponderEliminar
  2. Talvez seja mesmo do cansaço, mas elas vão crescer e tudo vai entrar nos eixos :)

    ResponderEliminar
  3. Olá, tudo bem? Meu nome é Tanara e estou voltando pro mundo blogueiro agora! Adoraria se vc visitasse meu blog e seguisse, caso goste! Também seguirei o teu! Grande beijo! (:

    ResponderEliminar
  4. O meu conselho (mãe de 3) é haver dias em que se manda tudo à fava e ir dormir assim que os miúdos adormecem.
    Para não esquecer compromissos a técnica cá de casa, além de usar a agenda do telemóvel com vários avisos, é ter um calendário mensal na porta do frigorífico. Todas as actividades extras, jantares, festas nas escolas,etc., estão lá anotadas.

    ResponderEliminar