Bem sei que a família e a saúde são as coisas mais importantes que temos e estou grata. Imensamente grata. Mas não sou inteira se não sou sincera. Não foi assim que imaginei a minha vida e embora não me falte o mais importante, a verdade é que falta uma grande parte, tão grande que é um vazio. Quanto a isto não se pode dizer que "não se pode ser tudo" porque pode; eu também posso, que não sou tão pior assim. Não sei explicar isto. Doem-me os olhos de tanto pensar mas não consigo responder.
Tenho vergonha.
A verdade é exactamente esta: tenho vergonha daquilo em que me tornei. Vergonha de não ter respostas, vergonha de responder sempre o mesmo às pessoas que perguntam, vergonha de me ter convencido que comigo ia ser diferente, de ter acreditado e de agora estar num vazio absoluto. Tenho vergonha deste lado de mim. Mesmo que até julguem que posso estar a exagerar, ninguém pode compreender. Claro que também tenho receio, um receio enorme que esta situação não mude tão cedo, que se mantenha assim por mais tempo do que aquele que eu consigo suportar. Se calhar os nossos limites são maiores do que imagino mas neste momento o que sinto é que ultrapassei os meus.
Estou perdida e não sei o que faça. Desistir não sou eu e não é opção mas preciso de um plano. Preciso urgentemente de um plano, eu que não aguento andar sem rumo. Não faço ideia o que vem a seguir e mesmo não sendo o fim do mundo, parece-me como se estivesse perto.
Acabarei por levantar a cabeça e seguir em frente.
Acabarei por seguir viagem para um dia chegar a bom porto. Só preciso de ventos favoráveis, uma boa bússola e acreditar que poderei ser bom marinheiro. Mas por agora, e antes do sol, parece apenas um enorme naufrágio.
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