O que é mais importante, o trabalho ou o resto?
Pelo título parece que vem aí uma dissertação sobre a importância do trabalho versus a família.
A circunstância de estar a fazer uma licença de maternidade de 9 meses é, julgo eu, demonstrativa da não questão que essa reflexão seria. Para mim, não há qualquer dúvida sobre a minha prioridade.
Quer isto dizer que na verdade o título tinha outro intuito, a saber, perceber dentro do contexto do trabalho o que é mais importante: o trabalho propriamente dito ou as outras coisas.
Se me cingir ao estritamente profissional, o meu trabalho não é lá essas coisas. Não prevejo evoluções de carreira a médio / longo prazo. Não é estimulante nem muito desafiante. Na verdade tem um potencial de responsabilidade e interesse bastante grande mas está mal aproveitado. Podia ser muita coisa, mas é só um trabalho, na maioria das vezes chato. Não me desafia, nem entusiasma. Não me motiva. Faço-o porque é o meu trabalho e tem de ser feito.
Por outro lado no entanto, o meu trabalho lato senso tem inúmeras vantagens.
O meu horário é maravilhoso. As minhas férias em número de dias também. Tenho flexibilidade para gerir o meu tempo. Consigo fazer teletrabalho. Tenho um seguro de saúde óptimo que inclui a família toda, seja um, dois ou vinte filhos (e um marido). O ordenado não sendo milionário, também não é mil eurista. Todos os anos recebemos prémio de desempenho. As pessoas são bem tratadas. Há imenso respeito. Dou-me bem com a minha equipa. O meu chefe é genuinamente uma excelente pessoa.
Daí que me questione: devo permanecer no meu trabalho pelas outras coisas que não o trabalho? Ou o que devemos mesmo almejar é o desafio profissional? O que é mais importante?
Aqui há dias o P. perguntava-me o que gostava mesmo de fazer.
Se não tivesse filhos e outras prioridades, se fosse só eu e o P. no mundo, eu gostava de trabalhar em organização de eventos, ligado ou não a turismo. Podiam ser festas de crianças. Ou feiras em hotéis. Ou pacotes de viagens. Qualquer coisa ligado à organização e montagem de coisas bonitas. Mesmo que trabalhasse até tarde e aos sábados.
Com crianças no entanto não era bem o meu sonho.
A minha resposta na altura, que tem de ser entendida em sentido figurado, foi: gostava de colar envelopes em casa.
Gostava de ter um trabalho que pudesse fazer de casa, que pudesse ser feito às sete da manhã ou às onze da noite e que dependesse só de mim. Em que ganhasse conforme a minha produtividade. Se colasse cinquenta envelopes, ganhava x; se fossem cem, o dobro de x. Se não colasse nenhum, seria zero mas sempre alguma coisa em função do que fizesse. Controlava os horários e o vencimento e nunca haveria de haver um mês em que fizesse zero porque havia sempre de conseguir dobrar meia dúzia, nem que fosse quando elas estivessem a dormir. Dá para perceber a ideia?
No fundo o meu receio é entregar-me a um trabalho em que esteja muito afastada delas, sem horários, e sujeita a risco (eu aversa a risco). Gostava de poder controlar o meu desempenho. Dobrar envelopes seria perfeito.
Traduzir a dobragem de envelopes para um trabalho a sério, não sei bem como se faz. Que trabalho é esse, se é que existe?
2 Coisas dos outros
Da forma que descreves o teu trabalho, quase diria: nem te mexas! :D
ResponderEliminarMas percebo o teu dilema, vivo um muito semelhante (embora goste cada vez menos do sítio onde estou)...
Se descobrires que trabalho maravilhoso é esse, pf avisa! ;)
O meu trabalho nao dá para levar para casa... e ainda bem, muitas vezes acontece levar o trabalho para casa mas na cabeça, se é que me faço entender.
ResponderEliminarEu tambem tirei licença de 9 meses e se voltasse atrás agora considerava tirar 1 ano. Se a gente nao tivesse mudado de casa quando eu estava de 38 semanas provavelmente ate o fazia lol mas a loucura de casa nova e depois o bebe, deu cabo de mim.
Beijinhos,
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