Carta aberta. À minha filha, que faz três anos


C.

Fazes três anos hoje e embora eu tenha andado a tentar arduamente, a verdade é que ainda não consigo explicar como é que já passaram três anos. Há três anos atrás passei os últimos dias em paz, como em toda a gravidez, e foi porque nos lembramos na véspera que era boa ideia fazermos em doze horas 800 km entre Norte e Sul que provavelmente nasceste no teu dia. Quando souberes ler já te devemos ter contado esta história dezenas de vezes e eu vou concluir sempre dizendo que foi exactamente da maneira que devia ter sido. 

De resto, aliás, como tu.

Há muitas coisas que podia dizer sobre ti, que do alto dos teus três anos às vezes me fazes esquecer que ainda és um bebé, mas o que gostava que soubesses é que és exactamente como devias ser e eu não mudaria uma vírgula mesmo que pudesse. A sorte, a felicidade, a bênção que és na nossa vida é algo que possivelmente nunca te conseguirei explicar mas está certa que és o meu amor maior e eu sou imensamente grata.

Grata por nos fazeres ser pequenos outra vez mas com os olhos mais atentos, mais focados em pormenores e a saber aproveitar.

Grata pela redescoberta constante do mundo, com mais piada, com mais gargalhadas, com um amor multiplicado.

Grata sobretudo por estares da nossa vida, seres a nossa vida e nos mostrares o que é sermos pais.

Grata pela nossa família, que começamos a criar contigo e é o nosso maior bem.

Grata em especial por me deixares ser a tua mãe.
Ninguém me disse que ser mãe era ser isto mas eu descobri que foi a melhor coisa que alguma vez fiz.




1 Coisas dos outros