Sobre a Eliete

Há duas grandes forças que me ficaram do Eliete (para além de - em bom português - a senhora ter uma panca gigante).

A primeira resulta do próprio texto e diz assim:

"Somos a nossa memória. A memória determina o que sentimos, o que sabemos, o que imaginamos, o que intuímos, somos a nossa memória e quando lhe perdemos o acesso, mergulhamos num vazio inimaginável, sem acesso à memória não poderemos saber dos valores morais que nos guiam, dos amores e dos medos, das ambições, dos erros e fracassos."

Esta ideia não se relaciona em praticamente nada com a história, é só um à parte, um detalhe, nem se quer diz respeito à personagem principal (embora por vezes ela também pareça que se esqueceu dos valores morais). Mas ficou-me porque me diz imenso. Na verdade grande parte de nos é memória, não exactamente do passado mas sobretudo do que somos, onde estamos, o que fazemos, quem conhecemos. Pensar que um dia podia acordar e não me lembrar da minha vida é algo verdadeiramente assustador. Por isso sim, acho que somos a nossa memória e o nosso passado e presente são infinitamente mais importantes do que o resto (embora andemos sempre preocupados com o futuro).

A outra força deste livro foi perceber que a Eliete é o estereótipo do insatisfeito sem causa. E neste caso talvez ela tivesse as suas razões (que nunca chegamos a saber) mas o que vemos é uma mulher casada, com filhos, emprego, casa, amigos e que em tudo apenas encontra defeitos. O marido é péssimo, o trabalho não presta, a relação com as filhas, do pior, os amigos cheios de coisas más. E não, não quer dizer que todos tenham de se satisfazer com o mesmo padrão de vida, mas há um segredo, que temos no nosso quarto em forma de mantra, que é perceber muitas vezes que já temos tudo o que precisamos, só é preciso dar-lhe valor. Por isso há um quadro na nossa vida que diz que o segredo de ter tudo, é saber que já se tem tudo. Ou saber dar valor. Claramente esta senhora não estudou essa parte da matéria (ou talvez eu estivesse menos insatisfeita se fosse explicada a razão) mas quanto a mim continuarei a repetir a máxima. Cada vez mais convencida que ser agradecida, estar grata, é uma bênção.


0 Coisas dos outros