A escola
Ando a evitar falar do assunto. Bom, na verdade é mais do que isso; evito mesmo pensar. A minha filha tem 2 anos e 11 meses e vai pela primeira vez para a escola. Eu sinto que me vai faltar um braço.
Vou pôr de lado todas as considerações sobre “se ela tivesse cinco meses aí sim vias o que custava” porque isto não é um jogo a ver a quem doí mais. O que é facto é que ela esteve em casa até agora e que por isso este momento é tão difícil como se estivesse a acabar a licença de maternidade, fosse agora trabalhar e ela ficasse. Não vou negar que há vantagens, desde logo ela falar e expressar-se. Mas o facto de falar e se expressar poderá também fazer com que diga que não gosta e não quer ir.
Desmistifique-mos.
A escola não é um bicho de sete cabeças. Será em princípio um local feliz e um espaço de confiança, onde será bem tratada, fará amigos, descobrirá coisas novas e terá uma experiência em muitos aspectos enriquecedora. Se assim não for, não é também nenhuma pena de morte e se tivermos de repensar, pois com certeza que repensaremos. Não tenho dúvida sobre os factos desta equação. Racionalmente, está controlado. Mas depois há o outro lado, que é tão maior.
A minha filha (como possivelmente todos os filhos para todos os pais) é o meu bem mais preciso. Isto vem de imensos factores mas um deles será o facto de ela ser exactamente como é. Gostaria dela da mesma maneira em qualquer cenário (mesmo que tivesse mau feitio) mas aquela maneira de ser, o feitio, o jeito dela é tudo. É uma miúda querida, meiguinha, porta-se bem, está sempre bem disposta, concorda com tudo, alinha em todas as coisas, é exactamente igual a nós mas mais pequena. Tem um sentido de humor fora de série, é extrovertida, mete-se com toda a gente, tem uma imaginação maior que qualquer um de nós, inventa brincadeiras e jogos e histórias, é super activa, não bate, não se atira para o chão a chorar, percebe tudo o que lhe explicamos, explica-se igualmente bem. É companheira e esperta e está tão grande mas ainda é tão pequenina…
Tenho vários receios com a escola. O maior é que não esteja lá bem, que a magoem, que sofra. Outro, que é inevitável acontecer, é que perceba cedo de mais a maldade das pessoas. Mas tenho também um medo enorme que a estraguem. Que a escola a mude de tal maneira que a personalidade dela e a maneira de ser se convertam numa coisa totalmente diferente do que ela é. Por defesa ou instinto de sobrevivência.
Bem sei que parece que estou a falar do purgatório e não da escola. Eu por exemplo adorei a escola, incluindo o pré-escolar mas tive anos que sei hoje me mudaram para sempre (e não sei se para melhor). Que me magoaram muitas vezes, que muitas vezes cheguei a casa a chorar.
O meu elemento racional diz-me que ela não pode ficar numa bolha para sempre, que tem de se aprender a defender, que sofrer faz parte do processo, que ajuda a crescer. Mas honestamente não sei ainda como é que é expectável que os pais aceitem passivamente e estejam em paz com isso, sem algum desconforto. Eu estou desconfortável. Espero que tudo passe (“também isto acabará por passar”) mas para já o que queria era que Agosto durasse mais um ano.