Quando a minha filha nasceu e eu dei entrada de um pedido de licença parental de cinco meses, achava que cinco meses era tempo suficiente. Convenhamos, cinco meses é mais do que vai do Verão ao Natal - e Deus sabe que nunca mais é Natal. É quase meio ano. Pouco tempo? Passa num instante? Claro que não, não pode.
Cinco meses passaram a voar. Ainda não sei para onde foram mas se alguém os encontrar, aviso já que os quero de volta.
Juro que foi ontem que a minha bebé nasceu, que me cabia inteira no colo, que dormia em mim. E agora passaram cinco meses e eu estou praticamente de volta ao trabalho. Faltam duas semanas. E não sei se me falta um braço ou se perco a alma mas há um bocado enorme de mim que me diz que esta vai ser a coisa mais difícil que terei de fazer.
Deixar a minha bebé.
Nem acredito bem nisto. Como é que nos últimos cento e cinquenta dias estive com ela de manhã à noite e de repente, no belo do dia centésimo quinquagésimo primeiro, deixo de estar? Há qualquer coisa aqui que não bate certo.
Dizem-me que é tudo uma questão de tempo, que a vida entra na rotina, que nos habituamos. Neste momento não acredito em nada do me que me dizem. Só posso acreditar naquilo que vejo e o que estou a ver é que em menos de nada vou deixar a minha pequenina sem saber bem como.
A vida tem coisas extraordinárias.
Como é que alguém que nos cai no colo passa a ser a pessoa mais importante do mundo e cinco meses depois não fazemos a mínima ideia como viver sem ela? Parece que aqui esteve desde sempre, que cultivamos este amor desde tempos imemoriais, quando na verdade esta existência é ainda tão curta. Alguém - uma mãe - me dizia que voltamos ao trabalho, temos tantos anos de estudos, fazemos coisas complicadas, o mundo é absolutamente complexo mas chegamos a casa e não há nada mais importante que as gargalhadas do nosso bebé. E que passa, este sentimento que carrego agora.
Ainda estou na fase de pensar que todas as gracinhas, conquistas, desenvolvimentos vão ser feitos sem que eu os veja e que a vida como a temos organizada é estúpida. As prioridades estão mal definidas, o trabalho tem de vir em primeiro lugar, os horários não se explicam, falta-nos o tempo. Conheço o conceito de horário de amamentação mas sei que não tem aplicação prática ao meu caso, ainda que esteja a amamentar. Queria dar ao Código do Trabalho o estatuto do Código Penal e criminalizar as más práticas que me vão afastar da minha pequenina entre as nove da manhã e as sete ou oito da noite.
Aproveitar ainda assim para lembrar que é urgente mudar o foco. E que devo esquecer a precaridade no emprego e concentrar-me no que é realmente importante. Saber que a minha prioridade nestes cinco meses é simplesmente a coisa mais importante da minha vida e que isto sim dura para sempre.