A minha filha começou a escola em Setembro, praticamente com três anos, e desde então acho que não tivemos nenhum mês em que não houvesse qualquer coisa. Começou com gastroenterite logo na segunda ou terceira semana, dose que repetiu um mês depois e nos meses seguintes têm sido constipações, infecções respiratórias, uma amigdalite e.. otites, muitas otites.
Começou na semana a seguir ao Natal, estávamos nós de regresso a casa no pós parto e apercebemo-nos de que ouvia muito mal. A qualquer coisa que lhe dizíamos respondia com "hã?", "quê?" e repetíamos tudo infinitamente. Conclusão: otite mais antibiótico.
Desde essa altura começamos a reparar que muitas vezes coçava o ouvido, embora nunca se queixasse de dor, e acabei por marcar uma consulta de ORL. Foi em Março e tinha na altura outra otite e perda de audição no ouvido esquerdo.
A médica explicou que estas infecções ocorrem no ouvido médio, geralmente não dão dor nem febre mas provocam alguma surdez (ainda que reversível quando resolvida) - são otites serosas. O que acontece é que ela se constipa e, pela fisionomia (tamanho das amígdalas e sobretudo adenóides), a porcaria acumula todo no ouvido e não sai.
Iniciamos um tratamento de um mês e meio e quando regressamos novamente à consulta, não só não tinha melhorado, como a perda de audição se tinha alastrado aos dois ouvidos. Por essa altura eu já tinha percebido que ela andava surda, nem era preciso diagnóstico médico, mas em todo o caso o audiograma confirmou. Mais antibiótico e indicação para cirurgia.
Marcamos então uma nova consulta para segunda opinião antes de decidirmos mesmo operar e - sem surpresas infelizmente - otite mais uma vez. Foi prescrito um tratamento prolongado (desta vez sem antibiótico) que estamos a fazer e ordenada muita, muita praia antes de se pensar em cirurgia.
Naturalmente que vinte e quatro horas depois de iniciar o tratamento eu já desejava imensas melhorias, que não ocorreram, claro, mas o facto é que a C. continua surda. Falar com ela é um filme de malucos, coitadinha. Dizemos uma coisa e ela percebe outra totalmente diferente. Muitas vezes chega a mão ao ouvido em concha e vira esse lado da cara para nós para tentar ouvir melhor. Muitas vezes nos diz para falarmos mais alto porque não está a ouvir. Muitas vezes não entende.
Toda esta situação faz com que ande irritada, zangada, aborrecida, sem paciência. Vejo-a mais agitada e inquieta, ela que é tão calma e tranquila sempre. Deixou de querer ir à escola (e tem chorado muitas vezes), perdeu algum apetite, acorda de mau humor. Todo um cenário. Coitadinho do meu bebé!
Nisto, nós temos de nos lembrar sempre, todos os dias, que ela não anda bem e temos de triplicar a paciência. Mas muitas vezes berramos, ficamos zangados. Tenho de me lembrar da necessidade de contar sempre até dez.
Lembrar também - muito importante - que enquanto haja diagnóstico e cura total, resolve-se. Não entrar em pânico perante o cenário. Inspira. Expira. Não pira.
(E quem me dera poder ser eu a ficar com as doenças delas).