Memórias de infância
Tenho uma memória de infância
sobre as viagens escola – casa de carro com o meu pai, em que lhe ia contar
todos os pormenores do dia. Quem fez o quê a quem e quando ou porquê. Por causa
dessas conversas diárias, o meu pai conhecia os meus colegas todos, sabia os
nomes, as histórias. Tudo ao pormenor. Não era nada criança de não contar;
antes pelo contrário, “caprichava” nos detalhes e falava, falava, falava.
Ir agora buscar a C. à escola
faz-me muitas vezes lembrar essas viagens, com excepção de que o nosso caminho
agora é a pé e mais curto.
Começamos sempre por lhe
perguntar como foi o dia (geralmente responde “foi muito bem!”), o que fez, o
que brincou, o que comeu, o que aprendeu. Ela vai respondendo às perguntas mas
com muita frequência introduz informação nova, normalmente começando a frase
por “Ah! É verdade!” E depois conta.
Sabemos os nomes dos colegas
todos, quem se porta melhor e pior, quem fez o quê, quando e como. Há vários
detalhes nas conversas dela, sentimos mesmo que conhecemos toda a dinâmica
escolar (ou grande parte).
Espero que este hábito se
mantenha sempre na nossa família, os momentos para conversar sem outras
distracções. À semelhança aliás do que acontece às refeições, em que não há
nunca televisão ligada, nem telefones (a C. é a primeira a dizer “à mesa não há
telefones” se algum de nós comete o erro de pegar no telemóvel). São momentos
especiais e o que verdadeiramente importa.
1 Coisas dos outros
Já a minha não conta nadinha. É impressionante!
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