A rotunda dos balões

Todos os dias de manhã passamos de carro numa rotunda cheia de balões a toda a volta. Balões coloridos, imensos balões. Apesar de nunca ter percebido o que ali faziam, estão sempre cheios, como se celebrassem diariamente uma coisa qualquer. E são repostos. Há um trabalho que é de todos os dias, esse de encher balões e prender na pedra da rotunda. E ali ficam, aos montes, a colorir a estrada. Sem saber do que se trata, sempre achei que tinham pendor publicitário. De loja, de ginásio, de marca. E que essa loja, ginásio ou marca os punha ali, chamando clientes, curiosos. Os balões gritam "reparem em mim". E eu reparava. Todos os dias. Mas nunca os tinha visto verdadeiramente.

Aqui há dias, fazendo a rotunda com entrada em sítio oposto, vi que debaixo do sítio onde os balões de prendem há papeis. Folhas A4, com letras garrafais, coladas na pedra da rotunda. 

Dizem que só quer ser pai, que só quer as filhas, que é injusto. 
Dizem que há um processo judicial, no Tribunal de Família e Menores.

E eu digo a mim mesma que alguém tirou os filhos àquele homem, que todos os dias enche balões na rotunda para que reparem nele. E que as ideias publicitárias tiram a atenção do que é verdadeiramente importante. Porque ao ver a rotunda dos balões, nunca percebi que o que ali se passava era tudo menos colorido.

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