Na véspera dos anos da minha filha estive o dia inteiro a tratar de coisas para o jantar de família do dia seguinte. Fiquei na cozinha de manhã até à noite e já passava da meia noite quando comecei a parte de pôr as mesas e a decoração da mesa do bolo. Durante todo o dia, sei que tive comigo o meu anel de noivado (que a par da aliança não tiro para absolutamente nada) e de em dada altura ter até pensado que se calhar o devia tirar para não o perder. Não o fiz (mais mais tarde senti isto como um sinal). A verdade é que andei sempre com as mãos a mexer em comida, água, loiças, tralhas, tudo com alguma velocidade para ficar tudo feito a tempo e o anel está realmente um bocadinho largo.
Bom, nisto quando me fui deitar, estava a lavar os dentes quando olhei para a mão e só tinha posta a aliança. Entrei em pânico. Corri para o P. em stress tal que ele julgou que alguma das miúdas (ambas muito constipadas) se tinha sentido mal. Percebi naquele momento que o tinha perdido, que tinha ido com a comida ou o lixo, que nunca mais na vida o via. Chorei que nem uma condenada (sim, eu sei que é só um anel mas tem muito, muito, significado, é mesmo muito especial, afinal foi com ele que o homem me perguntou se queria casar e eu quis).
Quando acalmei começamos os dois a procurar a casa inteira. Não fazia ideia quando tinha sido, se manhã, se de tarde. Não sabia se o tinha ao jantar ou ao almoço. Ando sempre, sempre com ele, logo não reparo. Vimos debaixo de todos os móveis, máquinas, tapetes. Obriguei o P. a ir ao contentor buscar o saco de lixo que tinha levado pouco tempo antes e retirei um por um todos os pedaços de lixo desse e do saco que ainda estava no nosso caixote. Abri todas as fraldas da minha filha mais nova. Remexi em todos os quatrocentos mil lenços (repito, duas constipadas), vimos os ralos das casas de banho. Abrimos as tampas que estão no chão. Toda a casa ao detalhe. Nada de anel. Depois de já me ter deitado, umas duas horas depois, ainda me levantei para ver as máquinas da roupa e louça, cesto da roupa suja e da lavada, bimby, micro ondas. Tudo o que fui capaz de me lembrar. Nada.
No dia seguinte era a festa da minha filha e eu com isto na cabeça (sim, problemas de primeiro mundo) e convenci-me que talvez estivesse no meio dos pratos que tinha feito para o jantar (receita de bacalhau no forno). Fui aos pirex onde já os tinha colocado remexer em cada grama de comida, tentando em vão encontrar o anel. Nada, mais uma vez.
Eu super triste. O P. super compreensivo e "deixa lá, os bens materiais não valem nada, o que interessa é que casaste comigo". Os meus pais que entretanto chegaram para a festa "és uma irresponsável". E eis o cenário.
Chegaram os convidados, tivemos a festa. Só cantamos os parabéns à meia noite por isso as pessoas só foram embora já depois da uma da manhã. Começamos a arrumar tudo (antes de ir dormir a casa tem de ficar como se nada tivesse acontecido), arrastamos móveis para aspirar migalhas de bolo, continuei sempre a procurar. Zero anel e eu convencida, honestamente, de que o tinha perdido para sempre, pensando que devia ter dado ouvidos à voz de dentro da minha cabeça que me avisou para o tirar antes que o perdesse.
Nisto, uma máquina acabou de lavar e fui à dispensa buscar um saco de onde tinha tirado no dia anterior uns pratos e onde os ia colocar lavados para a minha mãe os levar, quando no fundo do saco ali está O MEU ANEL !!
Não vou reproduzir a dança dos festejos mas posso dizer que implicou o meu homem a pegar em mim depois de me ter atirado para o colo dele. A melhor prenda de aniversário de sempre!
Claro que agora arrumei o anel no sítio dele e nunca mais o vou usar, o que não deixa de ser triste porque os bens materiais não valem nada, mas muito menos se não os usarmos. E tenho pena. Mas juro que não ganhei para o susto. Tenho uma mão mais feia sem ele, mas ao menos tenho-o seguro. Ufa!