Porque uma surpresa nunca vem só e o meu homem é afinal a maior surpresa de todas

Conheço o meu homem há anos suficientes para saber que ele não ia deixar passar os meus trinta assim sem mais. 

Organizamos um jantar para a família no dia mas eu sabia que ele não ia deixar a coisa só por aí. A dada altura do processo, uma noite num jantar de primos, disse que ainda íamos viajar antes do Verão e acendeu-se uma campainha na minha cabeça. Uma viagem pelos anos? Dias mais tarde fiz algumas perguntas, para saber se a existir seria a dois ou a três (não queria deixar de passar os anos com a C.) mas recebi de resposta a indicação de que não havia nenhuma viagem para os anos. Fui fazendo algumas perguntas ao longo do tempo mas acabei por desistir. Achei no entanto que no sábado a seguir ao dia de anos, ele devia ter alguma coisa preparada. Esta suspeita foi sendo alimentada por pequenas pistas que encontrei, sem querer, no carro: num dia uma cartolina azul; noutro, post-its de várias cores. Claro que lhe perguntei o que era aquilo mas coincidiu com uma viagem dele portanto todas as explicações foram breves e do género "não tenho nada a ver com isso, tu é que és a rainha da papelaria lá de casa." Ok. Não insisti (mas secretamente achei que me ia encher o carro de papéis a dizer "parabéns").

Na sexta-feira ao final do dia, a C. chega a correr à minha beira a dizer: "mamã! mamã! Vamos andar de barco e é uma surpresa!", seguida de um pai a contestar "C., o pai disse que era sur-pre-sa! E não é barco!; é carro!". 
Passou. A minha filha tem dois anos e podia de facto ter confundido barco com carro (pouco provável mas podia acontecer).
Nesse dia à noite, o P. diz-me que no sábado vamos fazer um lanche a um sítio novo e que temos de sair de casa às quatro da tarde. 

Sábado há alguma movimentação em casa. O P. diz que tem de sair de manhã sem mim, há alguns telefonemas. Regressa à hora de almoço e quando abro a porta tem na mão a minha prenda: uma árvore (num vaso) para plantarmos no jardim, com um cartão que diz: Plantar uma árvore? Check! (Lembram-se da "lista"?) - falamos disto outro dia, fica prometido.

Às quatro da tarde o P. vai acordar a C. porque temos de sair - ele diz que a pressa se justifica porque "as portas fecham" e quando chego ao quarto dela, tenho uma miúda aos saltos na cama a dizer "surpresa! surpresa! surpresa!". Sei que vai acontecer alguma coisa. Saímos de casa, de carro, eu a tentar adivinhar onde vamos, setas que indicam marina do Freixo, de repente a ideia do barco a fazer sentido (eu sabia que ela não se ia enganar!) até que estacionamos o carro. 

- Queria marcar os teus trinta anos com uma coisa que só podíamos fazer no Porto. Vamos fazer o cruzeiro das seis pontes.

Um cruzeiro no Douro é uma coisa de que falamos desde o Verão mas que fomos adiando. Graças a Deus não chove e há até um restinho de sol. Vamos fazer um cruzeiro!

Chegámos ao cais e antes do barco estão exactamente - nem mais! - todos os nossos amigos com um balão gigante e confetis. De Lisboa, de Aveiro, do Alentejo, da Guarda, do país todo, todos! Desato num pranto, há confetis por todo o lado, o meu homem não existe!

Temos à nossa espera um barco que nos leva só a nós, e a um lanche maravilhoso, pelas pontes do Porto. Fazemos uma sessão de fotos na parte de fora, nunca chove, os pequeninos vão todos contentes, abraço toda a gente que vamos vendo ao longo do ano, mas que não está toda no mesmo espaço desde o último casamento. Nunca na vida pensei que estivessem a planear a festa desde Janeiro, nem acredito que em vinte e cinco pessoas ninguém se descaiu este tempo todo - e falamos todos, todos os dias (viva o whatsap!)

O passeio dura umas horas, brindamos, o ambiente é perfeito. Duas amigas dizem-me que vão ficar lá em casa a dormir, outra fica também para o dia seguinte. 

O barco pára, voltamos ao cais. Trago um balão enorme preso na minha mochila que não espelha nem metade da minha felicidade. Aqui e ali as pessoas vão dizendo que vão embora. Há quem tenha miúdos pequenos, há quem regresse de avião, outros aproveitam e vão ver a família, que também é de longe. Acredito genuinamente em todos e juro pela minha saúde que não espero absolutamente mais nada daquele dia. Tenho o coração cheio. Despedimo-nos com abraços apertados.

Organizamo-nos para regressar para casa com os três casais que ficam, entramos nos carros, voltamos com cuidado para nenhum se perder.

Quando estacionamos digo ao P. que nos esquecemos da luz da cozinha acesa. Entro em casa e tenho uma vela a iluminar um 30 gigante feito de fotografias da última década colado na parede, lindo, com todas as pessoas que fizeram desta tarde uma tarde feliz! 

Nos dez segundos a seguir ainda estou a processar que o P. tenha preparado aquilo para nós e os amigos que cá ficam e começam a sair do corredor, sala e portas toda a gente outra vez! Na sala há uma mesa de sushi gigante e tudo posto para um jantar maravilhoso (alto patrocínio dos meus pais em conluio com o meu homem!) Não caibo em mim. Os parabéns são todos para o P., que pensou e organizou todos os detalhes e pôs de pé uma festa de que me vou lembrar para sempre. Se não estivesse já casada com ele, levava-o à igreja no domingo de manhã e só saímos de lá casados. Nunca, jamais, em tempo algum suspeitei de alguma coisa deste género. Na parede de ardósia preta da cozinha está a cartolina azul e os post-its para as mensagens de parabéns! O Z. deseja que as rugas que os trinta podem trazer sejam só de expressão e eu tenho a certeza que fiz umas quantas neste dia mas não podia estar mais feliz e grata. Pelo P., que não tem explicação, e por todos os amigos que a vida nos deu e a quem queremos tanto e tão bem. OBRIGADA!

           

1 Coisas dos outros