Still reporting from home!

A nossa quarentena começou precisamente há dez dias: estamos há dias em casa, os quatro, apenas uma ou outra saída urgente minha ou do meu marido (supermercado uma vez; farmácia outra) e de resto aqui estamos. Fizemos regras, rotinas, tabelas, organizações mas nem sempre as conseguimos cumprir. Tento lembrar-me que, além da saúde, o mais importante é mantermos a calma e lembrarmo-nos sempre que para os miúdos é tão difícil (ou mais!) do que para os adultos. Num dia eles iam à escola, estavam com os amigos e viam o sol; no dia seguinte foram fechados em casa. E sim, claro que explicamos o básico (à mais velha) sobre os tempos actuais mas naturalmente eles não alcançam o verdadeiro significado. Na verdade, acho que às vezes eu também não. Confesso que ainda há momentos em que julgo que estamos num filme qualquer de mau gosto mas não tarda acaba tudo. Parece tudo demasiado irreal para ser verdade.

Depois de dez dias fechados em caso ainda não batemos uns nos outros e devo ser sincera e dizer que o saldo é, apesar de tudo, positivo. Consigo ter as crianças alimentadas e a casa limpa. Arrumada, naturalmente que não. Para isso planeei todos os almoços e jantares até início de Abril e tenho uma tabela de lides domésticas com uma ou duas coisas todos os dias. 
A C. tem aulas todos os dias de manhã, através dessa coisa absolutamente maravilhosa chamada Zoom, que salva a nossa vida! Tem três aulas diferentes (e eu já pedi também o balett e a dança!) e ajuda a manter o contacto com a escola. A pequenina tem aula de música uma vez por semana, que é o momento alto!
Quanto a nós, as nossas empresas puseram-nos em casa a trabalhar e devo dizer que conjugar o trabalho com a vida tem sido o mais desafiante. É muito difícil entreter crianças e fazer reuniões ao mesmo tempo. Sendo certo que se isto fosse coisa para durar dois ou três dias, eu teria de aceitar que elas vissem mais televisão que o normal, mas sendo coisa para meses, elas não podem (simplesmente não podem) passar o dia entre televisão, consolas e telemóvel. A C. pinta e faz legos mas pede atenção e quer que brinque com ela; a I. não se pode desviar os olhos meio minuto que ela já deu cabo de qualquer coisa e pôs em risco a saúde (e o medo que eu tenho de alguém precisar de ir ao hospital?). Por isso claro que trabalho, não tenho remédio, mas acordo muitas vezes às seis e meia / sete da manhã para trabalhar duas horas antes de elas acordarem e volto a fazer o mesmo quando elas vão dormir para compensar os bocados em que durante o dia não consigo. No meio ainda é preciso fazer pequenos-almoços, lanchinho da manhã, almoço, lanche e jantar, banhos, roupas, limpezas, passar a ferro. Quando nos deitamos podíamos jurar que passou um comboio em cima de nós!

Por outro lado no entanto, nunca fizemos tantas calls com amigos, nunca falamos tanto com as pessoas, nunca se partilhou tanto tanta coisa boa e também é preciso pensar nisso. Procuro só espreitar as notícias uma vez por dia e na diagonal porque ter a informação toda assusta-me. A maior parte das vezes prefiro ver os vídeos e imagens das milhares e milhares de piadas que se têm feito sobre isto. É muito preciso rir. E ter calma, não sei se já disse. Admito que eventualmente iremos sair desta e retomar a vida normal (ou o que isso será, vamos ver) mas não estou ainda a ver a luz ao fundo do túnel, confesso. Há muita coisa a mudar. Espero conseguir lembrar-me sempre de fazer um dia de cada vez, inspirando, expirando, não pirando. E haja saúde! Força para todos! 

1 Coisas dos outros