Aguarelas, essa tendĂȘncia

Em Outubro de 2018, a minha filha, que ia fazer quatro anos, escreveu em casa pela primeira vez o nome dela. Eu fiquei parva de orgulho, num misto de baba e ranho - como é que ela cresceu tão råpido - e desde aquelas letras gigantes e desalinhadas (mas tão perfeitas!) até hoje em que escreve jå imensa coisa (vai fazer cinco), foi um pequenino salto.

Nesse dia eståvamos a pintar com aguarelas e além do nome ela pintou imensas, imensas folhas, com riscos e traços e combinaçÔes inventadas por ela. As pinturas ficaram longas semanas coladas na parede da cozinha (onde colåmos precisamente porque eståvamos próximo da festa e era assim uma homenagem vå) mas ao fim de algum tempo acabamos por as tirar. Guardei-as todas na mala onde guarda os desenhos e recentemente fui pescå-las.

Claro que eu sou altamente suspeita mas havia um conjunto de duas ou trĂȘs que estava realmente uma combinação maravilhosa e decidimos logo ali que haviam de ir parar Ă s paredes.

Foi assim que inauguramos a primeira parede da praia, com duas pinturas da minha filha e uma letra de uma canção emoldurada, num trio que ficou mesmo perfeito. É um quentinho no coração entrar em casa e ver o corredor.

Depois disso fomos colocando outros detalhes de decoração, que Ă© uma parte que eu adoro mas que Ă© Ă s vezes ingrata porque o que imagino nem sempre consigo alcançar. Coloquei imensas fotografias da famĂ­lia por todo o lado. Coloquei vĂĄrios espelhos reciclados da versĂŁo anterior da casa (e que sĂŁo dourados, vintage, lindos!) Coloquei uma moldura com trĂȘs palavras na entrada - que nĂŁo sendo o meu hastag porque eu nĂŁo sou uma hastag person, sĂŁo a minha frase (que pensei tatuar a dada altura em vez das iniciais das minhas filhas, mas sĂŁo trĂȘs palavras e Ă© inglĂȘs - desisti).

E chegamos assim Ă  sala.
Uma das paredes da sala grita quadros por todos os centĂ­metros. É a maior parede das quatro e estĂĄ branca, pura, imaculada. Precisa de trĂȘs molduras grandes em cima do sofĂĄ e irĂĄ precisar de mais alguma coisa na parte junto Ă  sala de jantar. EntĂŁo esta mĂŁe que vos escreve pensou: vou pĂŽr a minha filha a trabalhar num projecto que combine com o do corredor (casa com obras de autor, estĂŁo a ver) e temos o bolo que podemos comer. Detalhe disto: passaram oito meses e tudo aquilo que eram riscos (arte abstracta) passou a ser bonecada. Agora jĂĄ consegue fazer pessoas e casas e por isso quando lhe passei os pincĂ©is e aguarelas, o resultado foi uma famĂ­lia com uma casa, um jardim, o sol e o cĂ©u. 

Ora, por muito que eu aprecie os desenhos da minha filha, não acho - numa vertente de decoradora de interiores - que tais criaçÔes conjuguem bem com uma sala (hå no entanto um desenho dela - o boneco mais amoroso de todo o sempre - que vai para o quarto delas). Posto o que, obrigada filha, vamos pÎr os desenhos noutra parede de casa. De onde, fiquei sem quadros para a sala.

Resultado para qualquer pessoa normal: ok, vamos tratar de arranjar uma alternativa, no mercado normal de quadros, molduras ou posters (e by the way, o desenio.pt tem coisas maravilhosas).
Resultado desta alminha: se Maomé não vai à montanha, vai a montanha a Maomé, que é como quem diz em linguagem bíblica: pinto eu!

Em cima da mesa de jantar estĂŁo trĂȘs folhas A3, com trĂȘs "belas" composiçÔes criadas por mim, que fizeram o meu homem rebolar no chĂŁo a rir. EstratĂ©gia, deixĂĄ-las uma semana para criar o efeito hĂĄbito e posteriormente emoldurar e pendurar. Quem sabe se nĂŁo encosto as botas e me dedico Ă  pintura?



1 Coisas dos outros