Das nossas férias - indo
Faz hoje precisamente duas semanas estávamos de partida. Não só para uma viagem, mas essencialmente para um desafio, uma aventura: atravessar o oceano Atlântico - viagem de avião de oito horas - com um bebé de pouco mais de sete meses. Eu e ela. Sei que várias pessoas me acharam maluca, eu própria duvidei da minha sanidade mental a páginas tantas mas no fim de contas decidi ir.
Várias coisas podiam correr mal.
A começar, o meu pânico de voar. Já aqui falei disto várias vezes. Toda eu tremo, vomito, panico e choro. Não é bonito de se ver mas é mais forte do que eu. Este detalhe preocupava-me particularnente. Ao P. também. Dias antes dizia-me que não tinha receio pela C. mas por mim - só eu é que podia correr mal.
Eu no entanto, considerava também a hipótese de a C. sair à sua mãezinha e não ir muito à bola com isto dos aviões. Para me tranquilizar a minha mãe dizia-me que não, que ela ia adorar e que depois disto me ia dizer: vamos passear mamã? Está bem mas só se formos de avião.
Em teoria ela podia mesmo não achar piada e chorar. E são oito horas non stop.
Apesar de algumas considerações sobre coisas que podiam correr menos bem, algures no pré viagem se fez um click. Eu que fico sempre tão nervosa em vésperas de voos, de repente estava calma. Nem dores de barriga tive. Dormi lindamente, nada de stress. Houve um momento em que pensei que efectivamente a minha preocupação devia estar virada para a minha filha e não para os meus medos parvos. Por isso convenci-me a dada altura que certamente passaria o tempo atenta ao bem estar dela e isso seria o bastante para me esquecer do meu eventual mau estar.
Há aqui um paralelismo com o tirar sangue.
Toda a minha vida desmaiei sempre que tirei sangue, mesmo fazendo-o deitada. Durante a gravidez foi tudo super tranquilo e no fim já tirava a pé. A maternidade dá-nos super poderes que eu sabia que me valeriam no avião.
Assim foi de facto.
Na descolagem tinha a C. a mamar por causa da diferença de pressão - alivia, segundo dizem - e aquilo que costumava ser um pânico monumental, comigo a agarrar o P., a fechar os olhos e a tremer por todo o lado, foi simplesmente uma coisa normal. A minha filha a mamar e eu feliz por irmos ver o pai. Tão calmo, tão tranquilo. Inacreditável. Acho que a maternidade me curou.
Não vou dizer que o voo foi um mar de rosas porque a C. chorou uns bocaditos, com sono, com dificuldade de adornecer. Mas foi dormindo, comeu bem e fez-se. São efectivamente muitas horas e a dada altura estou desejosa de me ir embora mas aguentamos. E pela primeira vez na vida fui sempre a olhar pela janela quando começamos a aterrar.
Mesmo que tivesse sido uma experiência tenebrosa, passar o controlo de passaportes e sair para ver ali o P., na primeira fila à nossa espera, teria compensado tudo. Somos outra vez uma família feliz.