Dinamarquemos porque...


A nossa família, dizemos nós, é como as dos ciganos. Onde está um, estão os vinte. Somos ligados, estamos juntos. Sabemos da vida uns dos outros, damos palpites, metemos o bedelho mas somos altamente próximos e unidos e, acho que não falo só por mim, precisamos uns dos outros. Vivemos todos em Portugal. Vivíamos todos no Norte, a não mais de 20 Km de distância. Uns saíram para estudar mais longe mas voltamos sempre ao ninho. E almoços, lanches, encontros, jantares, festas de aniversário, Natais, Páscoas, dias da Mãe e Pai, de todos os santos, de santo nenhum, lá estamos todos. E se um não está por alguma razão, não há quem não repare. Há um detector de família em cada um de nós. Ao chegar, fazemos a ronda e contamos até vinte. Se paramos a contagem antes do fim, o radar apita. Sentimos a falta.

Há uns meses chegou a notícia que um de nós estava de partida para a Dinamarca.
Quis a vida que fosse o meu irmão. Já aqui falamos disto. Foi por mérito e por convite, numa oportunidade que não se deixa passar. Mas é longe e temos saudades. Sentimos a falta.

Ainda ele não tinha partido de malas e bagagens nesta longa viagem, já nós contávamos as vezes que lá iríamos e dividíamos os períodos para custar menos. Nos três meses iniciais, ao mês e meio já vamos nós. Depois vem ele e é Natal. E passagem de ano e quase dia de réis. Até à Páscoa é outro tanto. Havemos de lá voltar a meio, enquanto esperamos que volte e a vida faz-se assim, entre cá e lá, sempre que for possível. Porque nós sentimos a falta. E agora mais do que nunca. Mas a boa notícia é que já falta pouco para o ver.

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