A propósito do post anterior


Houve uma altura no meu quinto ou sexto ano que as dedicatórias eram moda. Andávamos todos de cadernos e blocos em punho, a pedir a toda a escola um texto fofinho. Aos amigos e conhecidos, até àqueles de quem só sabíamos o nome. Havia também os especiais, os miúdos giros e populares, de quem ter uma dedicatória era como encontrar o cromo mais raro da caderneta. 

Ainda guardo o meu caderno de dedicatórias, algures em casa dos meus pais. Não faço ideia há quanto tempo não o abro.

Mas sei que uma dessas dedicatórias, de alguém que considerava meu amigo, um rapaz da minha turma, dizia assim a dada altura:

És, como todas as pessoas gordas, alegre e bem disposta.

Passaram mais de quase vinte anos e nunca mais me consegui esquecer.

Tenho medo de pessoas más

Aqui há dias lia sobre uma mãe de uma bebé de quinze meses a quem alguém disse que a filha é feia. Assim, sem mais, a tua filha é feia.

Ser bonito ou feio para uma mãe ou um pai não interessa nada quando se fala de um filho; a questão não é essa. Não é importante. Importante - salvo seja - é o requinte de malvadez, é o fundo de maldade, é o tentar atingir onde mais dói - nos nossos filhos.

Não percebo insultos gratuitos. Nem percebo pessoas más. Assustam-me. Imagino que a infelicidade, a frustação, possam explicar muita coisa mas não justificam nada. Não sei aliás o que pode justificar que, a troco de nada, se distribuam insultos. Atenção que isto não tem nada a ver com dar opinião, vamos dar isto de barato. Vamos dizer que quando alguém diz "estás mais gorda", "tens mau aspecto", "estás pálida, estás doente?" há uma intenção qualquer que não sô a de magoar - estarei errada?

Dizer-se que se é feia, que um filho é feio, que se tem nariz de batata ou orelhas de abanico - ultrapassa-me. De onde é que isto vem? Tenho medo dessa gente. E absoluto horror a pessoas más.

Prendas no aniversário dos filhos

Tive esta ideia genial, enquanto me preparo mentalmente para o facto de daqui a dois meses a minha filha fazer um ano (o tempo voa! Me-do): vou dar uma prenda a mim própria. Afinal, estou tão de parabéns como ela, ou até mais um bocadinho considerando que fui quem fez o esforço todo.

Posto isto, prendinha para mim e não se fala mais nisso. E como até sou uma fofinha, vou dá-la a mim mesma, sem pedir nada a ninguém. 

Quanto à prenda propriamente dita, escolhi um anel. Não sei se já disse que sou a louca dos anéis. Amo de paixão, em todos os dedos, de todos os tamanhos, não me canso deles. E este não é um anel qualquer. É um que já tive. Confuso?

Há uns anos atrás (bastantes anos atrás) o P. ofereceu-me nos anos um anel. Não era de namoro nem de casamento, era um presente, normal, nem se quer por nenhuma data especialmente importante. Na altura não serviu - demasiado grande - e a loja não tinha mais tamanhos. Pedir o meu demorava um mês e eu simplesmente não quis esperar. Tinha urgência em usar o anel que o meu namorado me tinha dado. Troquei por outro que trouxe no dia, que curiosamente usei hoje, e não voltei a pensar no assunto.

Até hoje, precisamente por ter usado o substituto.
O anel era da Pandora e por isso foi muito fácil ver que ainda existe - sabe Deus quantos anos depois. Está na loja à minha espera. Se não saiu do mercado até agora, certamente aguenta até Outubro por isso lá irei, acabar o que o agora marido começou, pelo aniversário daquilo (desculpa filha!) que fizemos juntos. Parece um puzzle. Ou uma desculpa para me dar um mimo.


Estou para fazer isto há séculos. Ou há uma semana, vá.
Na sexta-feira passada chegou o homem (viva!!) e era suposto ir buscá-lo ao aeroporto. Suposto porque o voo atrasou duas horas, eu tinha uma reunião a que não podia faltar nem adiar, de modos que lhe restou o táxi.
À hora de almoço dei um salto a casa a ver se o via mas foi mesmo só isso - vi-o da porta do escritório porque estava numa conferência telefónica. Azar máximo.

Foi só ao final do dia que lhe pus à vista em cima e isto nem interessava nada não fosse dar-se o caso de ter chegado a casa e encontrar em cima da mesa um embrulho com um "Não é todos os dias que se fazem dez anos de namoro. Parabéns (atrasados)" - um parêntesis para um enorme Shame on me que não tinha nada para o rapaz.

Vergonhas à parte,
O que tinha o dito cujo do embrulho, pergunta a multidão em coro?
Tinha o brinquedo com que vos escrevo, coisa mais fofa de sua mãe (a seguir à própria da minha filha).
Tem o tamanho ideal e uma capa cor de rosa. Perfeito, portanto.

Porque não lhe dei mais uso e não escrevi todos os dias? 
Excelente pergunta. 
Estou ocupada em namoro do bom.

(Para a semana conversamos).


É como quando se tem alguma vontade de fazer xixi mas quando se chega a casa está-se mesmo à rasquinha

O P. devia ter chegado no sábado passado. Tínhamos um casamento nesse dia e era assim que as coisas estavam combinadas mas, uns dias antes, marcaram-lhe reuniões emtrês estados diferentes (true story) e teve de adiar o regresso uma semana.
Verdade que foi só uma semana e está de volta na próxima sexta (yeeaahh!!) mas a cada viagem tenho sempre este problema: quanto mais perto está, quanto menos tempo falta, mais o tempo me parece uma eternidade e o dia não chega.

Esta semana por exemplo, já devia ser quinta-feira e ainda é terça. Não está certo.
Já o fim-de-semana que devia ser lento e vagaroso, passou a correr.

Nãp percebo iato do tempo.
Uma professora de inglês que tive há muitos anos dizia-nos sempre no fim das aulas - doesn't time fly when we're having fun? E se calhar ela é que tinha razão porque é tudo muito mais divertido quando o homem está em casa.


No dia em que fazemos dez anos de namoro, somos nós em números

Conhecemo-nos há 16 anos.
Ao fim de 2 começamos a namorar
Namoramos 1 ano
Separamo-nos 3
Começamos a namorar outra vez
Contamos os anos do 0
Passado 7 anos casamos
2 anos depois nasceu a nossa primeira filha
Já fizemos 3 anos de casados
E a nossa filha 9 meses
Todos os nossos dias são importantes

Mas hoje faz 10 anos que tudo começou.

Estive a pensar e devia ser lei. Ou se calhar lei não, que nem todos cumprem. Mas ordem divino, imperativo superior, regra máxima

Fui a uma consulta a um hospital onde há urgências pediátricas e decidi que não devia ser permitido crianças em hospitais. Miudos doentes, em sofrimento, a precisar de cuidados, simplesmente não devia existir. Não podemos trocar por criançaa felizes e saudáveis, a rir e a brincar? 
Bem sei que os hospitais são nossos amigos. Mas para os bebés e crianças queria amigos maiores, que nunca os deixassem ficar doentes, que os afastassem da necessidade de ir ao hoapital  Para que não precisassem de ir, nunca mais.

Há alguém a quem devas um pedido de desculpa?

Gostava de não me lembrar tão frequentemente disto mas é quase diário.
Estou em falta com alguém. Fiquei em falta e agora é tarde.

Fez um ano que o meu avô foi internado.
Estávamos nas barraquinhas por alturas dos santos quando o meu pai ligou. Voámos para o hospital mas eu fiquei ali, à porta.
Inicialmente esteve nos cuidados intensivos mas acabou por ir para um quarto, à espera da cirurgia que nunca devia ter feito. Partilhava-o com mais duas pessoas e podia receber visitas. Toda a gente foi visitar o meu avô. Toda a gente menos eu. Os meus tios, os primos, até os mais pequeninos. E eu fiquei só com a imagem da janela do quarto dele e da minha tia a dizer-me adeus cá para baixo.
O meu avô esteve internado e perdi-o no hospital sem que o tivesse ido ver, sem que me tivesse visto, sem que soubesse que eu estava ali, à espera dele, a pensar nele. Perdi o meu avô à porta do hospital e para ele eu devo ter sido a neta que não o foi ver na única altura, na pior altura, em que precisou verdadeiramente.
Fiquei em falta com o meu avô. Fiquei em falta e agora é tarde. Já não tenho tempo de pedir desculpa.

Há um ano atrás eu estava grávida e ninguém me deixou entrar no hospital.
Eu achava que acabaria por ver o meu avô em casa. Não me impus como devia, não exigi, não entrei pelo hospital dentro. Fiquei à espera, à porta. O meu avô não voltou para casa, eu não me despedi e todos os dias desde há um ano sinto o peso de saber que lhe falhei.

Uma senhora

Estava no rés do chão do prédio dos meus pais, que tem a porta de saída e é todo envidraçado quando uma míuda (entre os 18 e os 20) entrou. Quando já se dirigia para as escadas e estava de costas para a porta, eu, que estava de frente, vi um rapaz com pinta de ir para o mesmo sítio que ela. Não sei porque achei isto, mas eram sensivelmente da mesma idade, tinham ar de festa e achei que se deviam conhecer  Além disso o rapaz ficou ali junto ao vidro a olhar para dentro, como se tivesse perdido a entrada da rapariga por escassos segundos.
Como o vi ali, chamei a míuda para que voltasse para trás para junto do potencial amigo. Disse-lhe algo estúpido como "olhe; desculpe mas está ali uma pessoa que deve conhecer." Ela olhou para mim como se eu fosse uma ave rara mas voltou efectivamente para trás. E; surpresa!, eram realmente amigos.

Esta história não tem interesse nenhum, como está bom de ver. E o que vem a seguir também não. Mas, ainda assim:

Os míudos entram no prédio, ele vem a agradecer por ela lhe ter aberto a porta. E ela diz, quando se cruzam comigo:

- Agradece À SENHORA, foi ela quem me chamou.

Primeira vez que me chamam senhora.
Estou crescida, está visto.

As mães giraças, essa raça

Sou absolutamente contra essa ideia de que as mães são seres com ar desgraçado, fato de treino, roupa com nódoas, cabelo sujo. Para dizer a  verdade, sou essencialmente contra a ideia de que uma mulher, só porque teve um filho, deixe de ser qualificada mulher e passe a ser só mãe para todo e qualquer efeito. Na roupa, no look, no ar acho que somos, devemos ser, apenas mulheres (tenhamos filhos ou não).

Posto isto, ou sem prejuízo disto, não posso deixar de me maravilhar com as mães giraças deste mundo. Aquelas cheias de pinta, impecavelmente apresentadas, simples, descontraídas. Gosto delas, pronto  

Já eu não sou nada assim, raça giraça. E é pena porque como até sou mãe, combinava bem comigo. Mas por muito que me esforce na produção, nunca tenho esse ar descontraído e glamoroso de quem é naturalmente uau! sem parecer fazer esforço nenhum. Estão a ver o tipo? 

Ainda há pouco me cruzei com uma dessas.
Tão gira, tão natural, tão "não fiz nada para ficar aasim". Estive mesmo para lhe perguntar qual é o truque. Ter um bebé não será certamente, ó para mim com a minha filha. Mas honestamente não sei qual é. Alguém tem ideias?

Junho calmoso, ano formoso

Foi Dia Mundial da Criança pela primeira vez para a minha. O P. teve de atrasar um dia o regresso mas voltou para mais duas semanas em Portugal. Fomos uma semana para o Algarve. A nossa filha fez oito neses. Fizemos três anos de casados. A C. foi pela primeira vez à praia. Descobrimos que praia com um bebé é todo um mundo novo. Tivemos o primeiro casamento do ano. Recebi uma carta boa e fiz um bolo por causa disso. Fomos às barraquinhas nos santos. Fui a um aniversário de 30 anos no páteo de uns amigos. Voltei à baixa para um brunch. Comprei um vestido xs. Quis perder-me nos saldos. Tirei  316 fotografias. Cumpri o projecto fotos do mês. Vi preços de viagens para Paris. E para Praga. E para os Estados Unidos outra vez. Contei os dias para as férias. Faltam 45.