Partilhar momentos

Ainda no Verão, ou pelo menos num maravilhoso dia de calor deste ano, em pleno Park - espaço rooftop numa das ruas de Lisboa - falava com um amigo sobre a partilha dos momentos; mais propriamente sobre os bons momentos que só fazem sentido se forem partilhados. Talvez isto tivesse sido a propósito do despropósito que é a partilha no facebook (mas eu sou anti esta rede social, por isso parcial nesta matéria) mas justificava-se o partilhar abundantemente com esta ideia de só assim fazer sentido. No fundo, aquele princípio - creio até que já usado em publicidade - de que os bons momentos devem ser partilhados.
 
Numa lógica totalmente oposta à do facebook - onde me parece que a partilha não tem esse objetivo - concordo em absoluto com esta máxima. São poucas as coisas realmente importantes que fazem mais sentido se as guardarmos para nós. Isto pode ir do mais simples - um local, um filme, uma música, uma vista - ao mais extraordinário - aquela viagem, um grande evento. Qualquer momento sabe incomparavelmente melhor se for vivido com alguém especial.

Desde que o P. foi para os Estados Unidos, lembro-me frequentemente disto. Partilho os bons momentos da minha filha com ele através do skype (valha-nos o skype..), embora mão seja obviamente a mesma coisa mas sinto falta de partilhar também as coisas mais simples: uma esplanada no sol de inverno, um passeio no parque, óculos de sol com cachecol, de que tanto gostamos, acompanhados de castanhas assadas embrulhadas em folha de jornal antigo. Gosto de nós no Verão mas no Outono também não nos saímos mal. E o Outono faz mais sentido se partilhado.

Além disso - e isto custa particularmente admitir - há um ligeiro desvanecer da vontade de me arranjar melhor, vestir melhor, maquilhar melhor quando ele não está. Preciso de alguma motivação extra para ultrapassar o simples calças de ganga e blusa branca, básico e sem graça. Pode acontecer que num dia tenha realmente alguma coisa a fazer na rua, receba alguma visita ou vá a algum lado especial e encontro aí algum incentivo no arranjo. Mas é difícil, confesso. Talvez a minha maior motivação seja o P.

Claro que no dia-a-dia, fora período de licença de maternidade, faço a minha vida normal e arranjo-me por mim. Há um incentivo natural na vida de todos os dias. Mas nesta fase, estou mais por casa, até pelo tempo de frio e chuva que se faz sentir, e sinto que realmente me falta aquele boost que nos faz procurar sentir-nos melhor connosco próprias.

Não caí na desgraça de andar desgrenhada e de fato de treino ou "roupa de casa" (que uma pessoa deve estar sempre pronta para sair ou receber alguém a qualquer momento) mas há algum desleixo, é verdade. Contam-se os dias em que me maquilho ou tenho especial gosto em usar algum look diferente. Se sei que vou sair e algum lado, aproveito para dar um up no visual. Mas se é daqueles dias - como hoje por exemplo - em que todos os afazeres são dentro de portas, deixo-me andar ligeiramente.

Mesmo não parecendo, isto tem tudo a ver com partilha.
Há alguma desmotivação em não poder partilhar os dias, mesmo os banais, e isso torna tudo menos especial, o que se reflecte no aspecto geral do visual.

O mais engraçado disto tudo, é que do outro lado do oceano, o P. diz-me que tem pouca vontade de aproveitar o tempo livre, de passear, de ir conhecer outras cidades. Porque o melhor dos bons momentos é poder partilhá-los com quem é mais importante. E nisso, somos iguais. 

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