Querida R.

Este ano lectivo foi muito difícil. Na verdade já não seria fácil em circunstâncias normais, mas as que tivemos tornaram-no num particular desafio.
Ter entrado em Fevereiro foi uma prova a superar. Os meninos traziam um ano e meio de alguém de quem gostavam e de sexta para segunda tiveram de a esquecer para receber alguém de novo (e não vou se quer falar dos pais, que isto não é sobre nós).
Pouco mais de um mês o mundo parou e as escolas fecharam. Os meninos que estava a conhecer foram levados para casa, ligamos os computadores e aí estão as aulas. Acho que não seria fácil para turmas muito coesas, com largos anos de conhecimento; para esta turma, a dificuldade explodiu a barra.
O que aconteceu nas onze semanas a seguir ninguém me contou, fui eu que vi. Assisti ao lado a todas elas, primeiro duas vezes por semana, no final já duas vezes por dia. A organização, o método, a paciência que não tem limites. Não a conhecia mas ponho-me de pé para a aplaudir. O que fez foi absolutamente brilhante. Hora do conto, letras novas, culinária e ciências, matemática, expressão motora, poesia, rimas. Aconteceu de tudo. Chorei com o poema da família e chorei no último dia. Por muitos anos que passem, de certeza que nunca nos vamos esquecer disto. Percebo, agora que as coisas tentam caminhar para um novo normal, que a C. corre para o seu colo, a abraça, dá beijinhos, entrega desenhos que fez para a R. Sei que a conquistou e consigo perceber porquê. No postal da prendinha de final de ano ela desenhou um coração e quis escrever "vou ter saudades tuas."
Do fundo do coração, muito obrigada por tudo.


Contigo 
Descobri que posso brincar
Sonhar e voar no saber
Que tenho a vida para crescer
Caminhei contigo num mundo de emoções
Construindo um ponte de afectos
Que levo na bagagem
Fazes parte de mim

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