Se virem o meu marido vão ver uma pessoa despreocupada, sem nada nas mãos, pode ter perdido as chaves e é bem provável que não saiba onde deixou a carteira. Se o telemóvel tocar daqui a pouco, talvez seja de uma qualquer esquadra da polícia a dizer que apareceram por lá documentos pessoais dele que nem faz ideia que perdeu.
Se o virem entre as 09:00 e as 19:00 não o vão ver verdadeiramente porque estará fechado em qualquer lado a trabalhar. De certeza que tem phones nos ouvidos e fala em inglês com um qualquer país do mundo, onde podem ser as mesmas horas que cá ou todo um outro fuso.
Se tiverem a sorte de o apanhar fora do trabalho, certamente que está na brincadeira, a ser exactamente ele próprio - um miúdo que ainda está a crescer. Crianças a voar no colo dele em princípio serão as nossas filhas, mas se estiverem em piruetas, rodopios, cambalhotas, pinos ou todos a rebolar no chão, são as nossas de certeza.
Se estiver concentrado a olhar para o telemóvel - e não for trabalho - aposto um jantar em como são sites de imobiliárias (ou eventualmente carros antigos).
Se virem o meu marido, ele é o gato moreno de dois metros, que está sempre de bem com a vida, não se chateia, tem uma paciência infinita (principalmente para mim!) e um gigantesco poder de encaixe. De certeza que está tudo bem mas se não estiver, ele resolve num instante.
Na eventualidade de estar sentado no sofá têm de olhar muito depressa porque ele vai adormecer não tarda, possivelmente no meio de uma frase.
Se o tivessem visto há três ou quatro meses atrás, trazia uma aliança - very sexy by the way - que dizia que é casado comigo mas entretanto nos dias que correm já não é bem assim (em todo o caso eu vou resolver, não se preocupem!).
É possível que esteja a magicar surpresas para me fazer e acreditem que vinte anos depois surpreende-me como te tivéssemos acabado de nos conhecer.
Se o virem é pode muito bem estar numa esplanada ao sol, na praia, no mar ou, não fosse a situação actual, num avião meia dúzia de vezes por mês, nos quatro cantos do mundo, da China à Austrália, dos Estados Unidos ao Brasil e várias vezes na Europa.
Se olharem bem para ele, vai estar onde nós estamos, a rir para as meninas e a tomar sempre conta de nós.