A minha formadora de escrita  perguntava-me há dias como ia a escrita, ao que lhe respondi pedindo que me desse na cabeça com uma marreta porque estava com tudo em atraso. Ela é uma querida e aceitou alegremente a opção marreta, não sem antes perguntar o motivo,

- é porque tenho uma branca?

- é porque escreves e não gostas?

- é porque tens dúvidas?


Ao que eu respondi com o clássico, é porque não tenho tempo. Porque acordo às sete e meia, depois de preparar os lanches e pequenos-almoços trato das crianças, levo à escola, trabalho o dia todo, à hora de almoço caminho, ou vou às compras ou outra coisa qualquer, trabalho o resto da tarde, vou buscar à escola, brinco, faço jantar, dou banhos, jantamos, brincamos, vou deitá-las e invariavelmente adormeço sempre com a mais nova e quando acordo é tardíssimo, arrasto-me para a cama e às sete e meia o despertador toca outra vez.

Leio isto e penso: ok, é verdade, não tenho tempo, não consigo encaixar a escrita, mesmo a leitura é ocasionalmente em cinco ou dez minutos na cama antes de apagar a luz. Onde é que escrevo, em que tempo?

Mas se for honesta nem é isso. É só desorganização pessoal.

Estou amplamente convencida que temos tempo para tudo, é só organizar melhor, onde ajuda muito escrever o que temos para fazer, e onde ajuda ainda mais fazer efectivamente. Se no tempo em que estou a dizer que não consigo fazer, fizesse, ficava feito ou meio feito. Já era um adianto.

O que me impede de escrever desde dezembro é desorganização e achar que tenho um elefante. Que cada vez que volto ao livro tenho de o fazer de uma vez e vou precisar de cinquenta horas seguidas. Não vou. Se calhar posso usar meia hora agora, quinze minutos amanhã e no final do mês já tenho mais três capítulos e um sentimento mais positivo de ter feito alguma coisa. A minha história é um elefante e estou cheia de medo dela mas não tem de ser assim. Um parágrafo de cada vez.

Continuo muito focada nas listas e listinhas, a escrever coisas que quero fazer, os planos deste ano, os projectos da casa, as viagens, tanta coisa. E sinto-me com a  cabeça cheia de coisas, a desejar muito ter tempo livre, em que pudesse fazer uma coisa sem sentir que estava a falhar a outra, mas também convencida de que é importante saber ter calma, respirar e aceitar que tudo tem o seu tempo.

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