O tema é: ...

Percebi que há um problema com a minha escrita (além do óbvio!) que é a incapacidade de subordinação aos temas. Vi o conto infantil do Pingo Doce, vi o concurso da Lello e não consigo aderir. Abro o word e fico a olhar para a página em branco, cursor a piscar, ideias a fugir. 
Sei que os escritores lidam com este problema da folha branca muitas vezes, como se fosse uma parede. E que, sendo escritores, o trabalho deles é justamente o de desbloquear essas limitações e avançar. Eu, não sendo escritora, poderia ter um talento natural ou conseguir ultrapassar essa parede com facilidade, mas não acontece. O tema é um conto sobre a quarentena e não me ocorre se quer meia ideia. O tema é uma história para crianças até sete anos, e eu até tenho duas, mas não me sai uma vírgula (na verdade houve um ano em que concorri mas perdi miseravelmente). De onde percebo que nunca vou ser escritora porque me falta o essencial, o mais básico: falta-me a imaginação. Eu sou mais ou menos capaz de relatar factos. Mas se tiver de os imaginar, de inventar, de criar situações, histórias, altos e baixos, já foi.

A esta inércia imaginativa, o meu homem contrapõe com um "isso é preguiça, tens de te esforçar". Mas para mim é difícil acreditar que a imaginação se trabalha, que é como um músculo que se eu trabalhar, trabalhar, trabalhar, irá dar frutos. Por isso na verdade talvez o primeiro desafio a vencer seja esse, acreditar que a imaginação é um abdominal e eu tenho de fazer pranchas de cinco minutos todos os dias - que vale dizer, sentar-me em frente ao computador a olhar para uma folha branca com o cursor a piscar.

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