Quando fomos viver para Lisboa arrendamos um apartamento mobilado. Estávamos a começar a vida e não tínhamos nada nosso, a não ser um serviço de pratos, copos e talheres que nos tinham dado no casamento. Uma casa mobilada tinha a enorme vantagem de lá conseguirmos viver sem ter de gastar dinheiro em mobília ou decoração. A sala estava completa, o quarto também. Perfeito, pensamos nós.
Um belo dia começamos a achar que o sofá já não estava em condições. Era muito velho e desconfortável e o que nós sonhávamos mesmo nos tempos em que namorávamos e fazíamos planos para a vida a dois, era com um sofá grande com uma chaise longue.
Decidimos então comprar um sofá.
Foi A grande compra do ano. Era gigante, confortável, cabíamos nós e o mundo, estava novinho em folha, quase que brilhava. Mas de repente toda a restante mobília da sala ficou um enorme elefante. O sofá era tão perfeito e destoava tão enormemente do resto, que começamos aos poucos a comprar o resto. Compramos uma mesa de jantar com seis cadeiras. Compramos um aparador. Compramos um móvel de televisão e a nossa sala ficou, agora sim, a nossa sala. Dizer apenas entre parêntesis que toda essa mobília foi a que passou para a segunda casa de Lisboa, para a primeira do Porto e para a nossa actual, que já fez portanto quilómetros e que continuamos a gostar dela.
O sofá acabou por ser o princípio do fim das coisas que lá estavam naquela casa. Acabamos por mudar tudo (e ao fim de 12 meses mudamos de casa, levando tudo atrás).
Quando iniciamos o processo de obras este ano, encaixotamos todas as coisas que íamos manter, demos todas as coisas que não queríamos e guardamos os móveis: camas, mesa de jantar, cómodas, mesinhas de cabeceira - tudo mobília com mais de trinta anos (algumas das camas, têm cinquenta). Não tenho absolutamente nada contra as coisas antigas mas de repente tínhamos uma casa totalmente nova (e toda branquinha) e as coisas pareciam não bater certo. Era aquele "está tudo muito giro mas..."
Foi assim que fomos pondo algumas coisas de lado e que neste momento restam apenas os sofás, a mesa de jantar e o móvel da televisão. Sendo que o processo em si foi difícil e custou (sobretudo ao meu homem).
Primeiro tínhamos as cinco camas montadas nos quartos.
Depois desmontamos uma (que decidimos logo trocar)
E montamos a que a substituiu.
Depois desmontamos mais duas camas, que o P. carregou às costas para fora de casa.
Para no dia seguinte pensarmos que se calhar era melhor ficar com elas.
Depois o P. voltou a carregar de volta as camas, que tornou a montar num quarto.
E ao fim de uma semana percebemos que não conseguíamos arranjar colchões para elas (demasiado pequenas e colchões demasiado caros), logo o meu homem voltou a desmontar tudo.
E a carregar tudo para fora de casa.
E a carregar para dentro três camas, que montou sozinho num sábado de imenso sol em que eu e as miúdas estivemos no parque
(mais valia cancelar o ginásio nesta fase).
Ficamos assim com os quartos todos renovados no que às camas diz respeito.
Ficamos assim também a olhar de canto para as mesinhas de cabeceira que, coiso e tal, são belos elefantes no meio da sala.
Então decidimos comprar uma (pseudo) mesa de cabeceira para o nosso quarto. E depois uma para o quarto das meninas. E agora resta apenas a do último quarto, cujo destino não se avizinha assim tão feliz. Primeira casa de Lisboa versão dois ponto zero.
Resumindo tudo, sinto que temos mesmo uma casa nova. Vou deixar apontamentos que são a cara daquela casa, que existem desde sempre e me cheiram ao cheiro de lá: os espelhos da entrada, as fotografias, o porta-chaves do meu avô e mais meia dúzia de coisas. Vejo a casa toda pronta na minha cabeça, com todos os pormenores de decoração, com tudo o que faz das casas lares, mas ainda há muito fazer (e temos ido lá todos os dias!). O passo seguinte será o evento de inauguração! E sim, esta cabeça não pára.