Os meus dias no Saldanha serviram para ver todo um fashion world que desconhecia e que normalmente me passa ao lado. Há um desfile de moda natural nas ruas, as mulheres são giríssimas, elengantérrimas, vestem-se maravilhosamente e vejo ali um catálogo da Vogue ambulante. Há um bocadinho de inveja nisto, confesso. Não das roupas, sapatos ou acessórios. Atrevo-me até a dizer que nem dos corpaços, penteados e posturas. Invejinha sobretudo da disposição.
A minha mãe sempre me ensinou a arranjar-me para sair e a estar sempre como se fosse receber alguém. Esta mensagem dita ao longo da vida faz-me hoje temer de medo perante a possibilidade de estar em casa de fato de treino, de roupa velha ou, Deus me livre, de pijama. Por isso, valha-me ao menos essa característica de estar em casa como na rua e de não ousar se quer pensar no conceito de "roupa de casa", mesmo nos dias em que os pés não passam a soleira da porta. Vamos dizer que isto é um ponto positivo.
Mas não é o bastante. Convenhamos; nem tanto ao mar nem tanto à terra mas há um limiar de arranjo que devia estar sempre presente. E não tem estado, confesso, fruto do meu ambiente mas principalmente da minha disposição.
Vamos pôr sextas e sábados fora, que são os melhores dias da semana e concentremo-nos no restante, que é afinal a maioria.
Claro que eu teria tempo de todos os dias me vestir de festa e maquilhar de gala, bastando antecipar o despertador entre cinco a dez minutos. Note-se só que isto não é uma questão de tempo ou falta dele, mas sim de vontade, o que é mais grave. Hoje em dia o meu trabalho implica apenas uma convivência com colegas, muitas vezes mesmo só com os do lado. Não há clientes, reuniões fora, diligências externas que impliquem a necessidade de boa imagem. Estamos o que somos. Para além disso, o ambiente circundante não é um fashion world, antes pelo contrário, se me permitem ser coisa ruim. Não me interpretem mal; não é um mundo de feios; é um mundo de pessoas normais, sem a componente pinp my ride, que é 90% dos casos. Não é um Saldanha, if you know what i mean. E por isso, por estupidez minha como está bom de ver, entro e sento-me nessa normalidade, fico submersa e com alguma dificuldade em reconhecer que há tanto que podia fazer para me sentir melhor, ainda que talvez um bocadinho mais destacada do que gosto. E isto pode ser uma roupa mais bonita, uns sapatos mais elaborados e uma maquilhagem mais uau!, sem sair obviamente de um clássico chic.
Esta podia bem ser uma resolução de ano novo ou então de imediatamente.
Mas, enfim, a ver vamos.
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