Carta aberta. À minha filha que faz 8 anos

 C.

Digo-te muitas vezes que ainda ontem nasceste e já estás tão grande e há dias dizias-me um sinónimo desta ideia: virei as costas e tu tinhas oito anos. Este deve ser dos maiores lugares comuns dos pais, mas vocês crescem efectivamente rápido de mais. Tu ainda há dias eras um bebé, virei as costas e és esta pessoa grande, crescida, responsável, tão emocionalmente estruturada, que até custa a crer a idade que tens. 

Continuas a adorar a escola, a tua professora, os amigos. Comer é também dos passatempos preferidos. E nadar, mergulhar, chapinhar, qualquer coisa com água está maravilhoso e mesmo o mar gelado parece um jacuzzi para ti - tal e qual a sua mãe com a mesma idade!

És agora a super orgulhosa irmã mais velha de duas irmãs, muito protetora e amiga das duas. Se alguém faz alguma coisa menos simpática a uma delas, viras bicho para as defenderes. É muito giro. Claro que tu própria podes fazer coisas menos simpáticas, mas ai de quem o fizer, saltas logo em defesa das manas - em especial da I., que está mais exposta que a bebé. Com a L. és uma mini mãe e ela tem um sorriso especial só para ti. Acho que vai ser um caso sério de amor de irmãs e que serás o grande ídolo dela.

Apesar de ainda te tentarmos proteger dos males do mundo, tens mais consciência do que te rodeia e não tarda vamos começar a discutir notícias contigo. Há dias falavas dos assaltos que têm aumentado e da morte da Rainha Isabel II - há ainda alguma dose de inocência nisto tudo, como ela só ter morrido porque já era muito velhinha e eu fico na dúvida entre expor-te a todas as realidades ou enfiar-te numa bolha protetora do mal. Suponho que o equilíbrio esteja no meio. Já me tens dito algumas vezes que ser mãe parece difícil e quando chegar a tua vez vais perceber melhor tudo isto. Espero que o digas por te parecer que eu faço imensas coisas e não por eu te dar a impressão de ser difícil. Claro que é um desafio todos os dias mas é também a melhor coisa do mundo. Como também já te tenho dito, de todas as coisas que sou, ser mãe é a que me faz mais feliz.

Aos oito anos ainda dizes que vai ser pintora e bailarina e embora estejas bastante afastada da dança há algum tempo, continuas a desenhar e pintar imenso. Tens muito jeito e muita imaginação e continuamos a ter quadros teus em algumas paredes, nas duas casas.

Neste último ano fizemos vários concursos de leitura - "quem lê mais livros do dia x ao dia y" - e ganhaste quase todos. A cada três meses estavas a ler 10 ou 11 livros, dos verdadeiros, de texto a sério e tenho imenso orgulho por seres uma mini leitora. Faz com que sejas também muito boa aluna, que escrevas muito bem e dês pouquíssimos erros. Não obstante, a tua disciplina preferida é estudo do meio (e neste momento exacto, robótica também). Nos intervalos das aulas, estás horas seguidas a fazer a roda e o pino.

Ainda assim, a tua atividade preferida deve ser ver televisão. O consumo está um bocadinho mais controlado, desde que há mais de um ano instituímos a regra de televisão só ao fim-de-semana mas se te deixarem podias passar umas longas horas de comando na mão. Se te desafiarem para uma coisa mais interessante, tu vais, mas a televisão é uma grande amiga. E a switch também!

Mas também já te interessas por roupas, maquilhagem, unhas pintadas (não em exagero, no entanto) e sei que são tudo demonstrações de que estás a crescer. Fico na dúvida entre pôr-te livros em cima da cabeça para ficares pequenina e em deixar-te voar. Suspeito, apesar de tudo, que a segunda opção é a melhor, desde que possa acompanhar sempre o voo. 

Gosto de ti daqui até à lua. Parabéns a nós!

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