amote

 Este post foi escrito em 2020 mas é o mais actual do blog. Posto isto:


amote

Conhecemo-nos em 2000 mas ainda estamos convencidos que vivemos a passagem do milénio juntos. Eu digo que foi aí em Março, ele jura que já era verão. Havia telemóveis mas os sms tinham limite de caracteres e eram pagos e os modems faziam um barulho imenso para nos ligar à net, o que só acontecia depois das 21.00 h., se ninguém estivesse ao telefone em casa, porque era mais barato. Estávamos longe de imaginar os smartphones e mundos na mão e como o tempo da altura o nosso encontro foi calmo, simples, descomplicado, inesperado. Eu procurava uma coisa qualquer e encontrei afinal aquilo que sempre tinha procurado. Era uma romântica a sonhar com finais felizes, marido e filhos. Não havia muito tempo tinha sido entrevistada para um jornal local sobre "como me imaginava aos trinta" e já aí imaginava essa vida tranquila e boa, com a família como a coisa mais importante. Desde que nos conhecemos, e já lá vão vinte anos, nunca mais nos largamos, mesmo que com um intervalo pelo meio. Hoje sei que as coisas aconteceram exactamente como tinham de acontecer e "não acreditando no destino, acredito que nada acontece por acaso." Foi uma sorte o que nos aconteceu, uma coincidência feliz que não pode ter sido coincidência mas que a ciência não explica. A probabilidade de duas pessoas se encontrarem nas circunstâncias em que nos encontramos é tão infinitamente reduzida que só podia dar certo.
O P. sou eu do outro lado. A outra metade. Não existo já eu sem ele. É o meu equilíbrio, o meu meio, razão e coração. O resto da frase, o fim do pensamento. Os meus pés na terra e todos os sonhos. Falto se ele me falta, não sou tão eu. E se ele não está, não está ninguém. Dizem-me, é normal, estás há muitos anos com o teu marido, e eu fico tão cheia de orgulho, tão vaidosa, tão feliz por lhe chamar o meu marido. Somos os mesmos dois miúdos de há vinte anos atrás mas agora ele é o meu marido e isto ainda me faz sorrir (dez anos depois), meia adolescente que ainda não cresceu e sonha um dia com esta sorte. Somos os mesmos dois miúdos mas montamos uma fortaleza, um reino encantado de música, risos e amor a que chamamos Família. Criamos a coisa mais importante do mundo, produzimos o bem mais precioso, a nossa maior riqueza, sem dúvida o melhor de nós. Éramos uma pessoa e agora somos uma pessoa maior, mais completa, mais feliz. Multiplicamo-nos em diamantes. Somos um abraço de gente, onde não se sabe onde começo eu e acaba ele, porque somos nós; nós somos a razão porque amote se devia escrever sem hífen porque não há mais espaço quando tudo é amor.

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