Olhar para trás para a quarentena

No fim-de-semana passado estive a arquivar fotografias desde o início do ano, processo que consiste em retirar ao telemóvel e arrumar em pastas criadas em discos externos.

Nisto acabei a criar uma pasta chamada "quarentena", com centenas de fotografias do dia-a-dia de casa durante três ou quatro meses. 

Claro que as fotografias mentem porque apenas espelham o que queremos e por isso não há birras, nem zangas nem gritos. Mas ainda assim, olhar para elas faz-me lembrar um período que, apesar de todas as dificuldades, conseguiu ser feliz.

Há os desenhos dos astronautas que pintamos no primeiro fim-de-semana;

E as dez regras que escrevemos ao terceiro dia, de onde constava entre elas "ser uma família feliz";

Há imenso pão caseiro. E pizza da família;

E o cabaz de frescos que recebi de uma amiga, quando troquei com ela pastilhas da máquina;

A C. tem dezenas de trabalhos da escola;

E temos centenas de fotografias na piscina;

Há a mesa de trabalho que partilhamos onze semanas, com tanta coisa que nem se vê o tampo;

Há desenhos e desenhos e desenhos!

E quando olho para trás não me lembro de ter sido difícil. Estávamos cansados; era muita coisa. Mas não recordo como uma desgraça. Ainda que não faça ideia como o tenhamos feito!


Passados uns meses do desconfinamento, e numa semana em que passamos outra vez os mil casos por dia, talvez seja uma possibilidade que volte a acontecer, fechar portas e abraços e proteger os nossos e todos. Não sei se estaremos preparados. Mas a nossa capacidade de aceitar depende em grande medida da nossa vontade de o fazer e se quisermos que seja fácil, certamente não há-de ser muito difícil. Pelo menos aqui, quando olho para trás, quase que parece que foi bom.

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