Aconteceu naquele Verão

 E pronto, lemos o pior livro do ano,e olhem que este já tinha tido Raul Minh'Alma! Portanto, é um feito. Má história, diálogos péssimos (não descarto ser um problema de tradução, uma coisa que resultaria bem em inglês original mas em português é só mau, mau), incongruências e muito fraco no geral. Que tristeza... eu à espera de uma história fofinha de verão para ler na praia (ahahah! era uma piada, esta parte!) e sai-me isto.. Não se faz!




Pós-parto

 Engravidei três vezes na minha vida.

Na primeira engordei 9 quilos. Na segunda 11. Em ambas, vestia toda a minha roupa pré-gravidez, no fim de quinze dias depois de nascerem. Não tive barriga de pós parto e recuperei todo o peso anterior. Tinha 27 anos na primeira, 30 na segunda.

Depois engravidei a terceira vez, com 35 anos.

Já aqui falei várias vezes do meu peso quando era uma criança. Ainda que não se falasse em obesidade infantil, pelo menos não como agora, eu era uma criança obesa. Com 10 anos pesava quase tanto como quando estava grávida de oito meses. Lidava perfeitamente bem com isso, na verdade nem me achava gorda (aquela inocência da infância) mas mudei de escola, de cidade, de amigos e os colegas novos fizeram questão de me fazer perceber o quão obesa era, o quão horrível e medonho era o meu corpo, quão nojentas eram as banhas da minha barriga. Com todas as letras. Perdi imenso peso depois disso mas perdi também toda a confiança. Afinal, eu não era tão maravilhosa quanto me achava aos dez anos; era só um saco de gordura, com uma banha boia que não me salvava de me afogar na censura. Dos outros primeiro, minha depois. Perdi mais de vinte quilos e entrei num peso "normal." Depois disso, já adulta, fui engordando e emagrecendo ao som de coisas várias mas há muitos anos que, tirando as gravidezes, o meu peso estava totalmente controlado. 

Dos tempos em que era muito gorda e muito infeliz com isso, lembro-me de imensas coisas. Mas lembro-me de forma absolutamente clara do sofrimento de me vestir. Não só era difícil arranjar roupa - os tamanhos de criança não serviam e os de adulto, enfim, eram roupa de adulto; como era extremamente doloroso ter de me vestir no dia-a-dia e em especial em dias especiais. Tenho esta imagem gravada na memória a ferro, de tirar tudo do armário, vestir todas as roupas, odiar imensamente tudo, atirar tudo para cima da cama e no fim, vestida com o menos mau, voltar a arrumar tudo outra vez. Detestava ver-me ao espelho, detestava vestir-me, detestava aquela dança do escolhe-veste-fica mal-despe-escolhe-veste-fica mal-troca. Cada roupa que vestia era mais uma assinatura na declaração do meu excesso de peso mas, mais do que isso, do meu mau aspeto. Há muitos anos que não me sentia assim. Casei no meu mais baixo peso de sempre e daí variei três ou quatro quilos mas nunca mais saí de um número razoavelmente aceitável, que dava pelo menos para vestir tudo o que queria e não ter de trocar de roupa depois de a escolher do armário porque ficava pessimamente mal.

Depois engravidei a terceira vez.

Adoro a minha filha e a gravidez não é de todo a questão. Mas engordei 17 quilos. 17. Até me custa pensar neste número. É verdade que estava enorme mas, caramba, 17? Só me apercebi disso no dia do parto, na pesagem para a epidural. Dezassete quilos...

Quando cheguei a casa do hospital, com a bebé no ovo, as minhas filhas perguntaram-me se ainda tinha o bebé na barriga. Os meninos da escola delas continuaram a perguntar-me se eu ainda tinha o bebé na barriga um mês depois dela nascer. Perdi 7 dos 17 quilos mas tenho 10 a mais. E a barriga é de pelo menos 5 meses de gravidez, sem que lá dentro esteja qualquer bebé. Desconheço completamente este corpo, não me identifico, não sou eu, não sei quem é. A minha roupa não me serve, as calças não apertam, os vestidos ficam apertados, a roupa de praia - que é larga e solta - fica uma tenda, uma mulher saco de batatas. Ou na verdade, só saco de batatas porque a parte mulher, evaporou. Voltei a ser a miúda que tem de se vestir, escolhe a roupa e volta à mesma dança veste-fica mal-troca, veste-fica mal-troca. A minha cama está cheia de roupa que não consigo vestir e que ao fim de dez tentativos, arrumo, já vestida com o que ficou menos mal. Estou enorme, a minha barriga está enorme, parece uma alforreca presa ao corpo, que não descola, não sai. Não consigo vestir biquinis e não tenho um fato de banho que me sirva. Estamos em pleno verão. Mesmo que não queira estou exposta quando a minha vontade era enrolar-me na toalha e ficar a hibernar com o corpo todo tapado.

Claro que agora vem a segunda parte. E porque é que não fazes nada em relação a isso?

Não tenho energia. Há anos que não fazia nada para manutenção do peso, era como era. A minha rotina não incluía comida ao almoço (porque me sabia melhor um pão, um iogurte, fruta, etc.) e era o bastante para manter, mesmo com uns doces pelo meio. Era controlado. Agora está descontrolado mas sinto fome 24 horas por dia porque amamento 24 horas por dia e estou sempre com apetite. Nem se quer quero não comer comida porque me compromete o leite e eu estou focada nisto. Não consigo ver como vou perder os dez quilos a mais, nem tão pouco a barriga alforreca. Mas além de serem ambos terríveis, fazem-me um mal imenso, fazem-me outra vez ser todos os dias a obesa dos dez anos a quem todos gritavam "gorda!, gorda!, gorda!" E o pior é que eles têm razão.

Curiosamente escrevo isto mesmo em cima de irmos "de férias"

Devia aderir ao goodreads porque o blog se transformou num resumo dos livros que leio. Mas na verdade é só a forma de me lembrar, no fim do ano, de tudo o que li. Caso contrário... já se sabe como ando a minha memória!

Em todo o caso, aquilo que era um diário da vida adulta, transformou-se mais ou menos num diário de leitura, com uma ou outra pontuação de outro tema (mas pouca) e é uma pena porque já cá voltei imensas vezes ao longo dos anos, com um sorriso ao recordar coisas que fizemos. 

Claro está que temos um bebé de dois meses e as coisas que fazemos contam-se pelos dedos das mãos. Depois do nosso "um fim de semana por mês" numa cidade de Portugal, que durou até Abril, Maio e Junho foram desertos em escapadinhas - embora a vida não se faça só de hotéis e boa vida. Na verdade, estivemos em Coimbra em Junho - ida e volta - mas com Portugal dos pequeninos, Parque Verde, Docas (gelado e pizza!). E agora que Agosto vai mais avançado, temos planos novamente. Dois fins-de-semana fora em Setembro, uma viagem em Outubro (tbc!..) e quem sabe em Dezembro. Sonhar não custa, certo? Ainda não sou a mãe descolada e cool, que depois logo se vê mas o caminho faz-se caminhando!

Para já caminhamos muito casa-praia e praia-casa ou casa-parque quando o tempo está menos amigo e fazemos oa dias no nosso sítio de sempre, com as pessoas de sempre e as rotinas de sempre - o que me deixa, também sempre, com um bocadinho de urticária porque queria dar mais mundo às minhas filhas e que tivessem histórias e memórias maiores que o praia-casa - lembrando ainda assim que elas são umas meninas cheias de sorte porque estão dois meses inteiros de férias, quando há tantas crianças que tiram apenas duas semanas fora da escola...

Elas andam felizes, contentes (e morenas!) e no fundo é o mais importante. Convém é não esquecer!

A breve vida das flores

 Este livro foi recomendado (ou lido mesmo, acho) no Clube do Livro - a que tenho faltado por gravidez, depois recém nascido, depois sabe Deus (mas que vou retomar!) e é mais ou menos um poema escrito em prosa. A história é tristíssima e está tão maravilhosamente escrita, que sentimos tudo. Toda a dor da mãe, do pai, toda a dificuldade daquela vida, mas também todos os cheiros, os sons. Que obra prima! Claro que chegamos ao fim com um nó na garganta mas se nos conseguirmos convencer que isto é só um livro, e nada mais, então acabamos de ter um privilégio imenso de nos termos cruzado com esta breve vida.




Lições de química

Este ano li mais do que nos últimos anos. Li livros muito bons, livros maus, livros assim-assim. E depois cheguei às Lições de química. Que livraço!! A história é maravilhosa, a escrita é maravilhosa, a capa é linda! Tudo a favor e nada contra. Adorei, adorei! Vai direto para o top deste ano - que vai ser difícil, estou a antecipar! - e que pena enorme ter chegado ao fim!




As raparigas de papel

 Um burro no estomago em cada página. Um soco bem dado na cara da sociedade. Que livro horrível - e tão bom ao mesmo tempo.

Uma distopia revoltante, enervante, desconcertante. E tanta coisa que é, ainda assim, realidade. 

Andava ansiosa para o terminar porque me deu pesadelos e me revoltava profundamente a cada página. Mas sem dúvida um livro que mexe connosco. Especialmente com as mulheres. Vai ficar certamente na memória...!



O Dicionário das Palavras Perdidas

Junho foi mês de bookgang, o que significa que pedi a box com três livros, sendo este um deles.

A história é de palavras, a origem do dicionário, o modo como as palavras são selecionadas e os significados escolhidos. Tão giro. E com uma enorme base de verdade atrás. 

O ritmo não me fascinou, é um pouco lento, mas a história é bonita e as definições das palavras novas também. Foi uma boa entrada para 2022.