Viva o amor!
Contam os meus pais que quando eu nasci, o meu irmão que à data tinha três anos, zangou-se um bocadinho. Digo isto da forma mais carinhosa que consigo considerando que estou a falar de uma criança, mas sendo fria e dura, na verdade ele ficou furioso da vida como se tivessem partido de propósito o brinquedo preferido e atirado a seguir à lareira para derreter devagar. Vim destronar um reinado que durava há três anos e a partilha de coroa não foi assim a melhor coisa que ele já tivesse visto. Talvez por isso a coisa tenha começado torta e, não exactamente como no provérbio porque acabou por se endireitar (já lá vamos), durante muito tempo parecia mesmo que tarde ou nunca se endireitaria. Naturalmente não me lembro dessa altura mas as memórias de infância relacionadas com o meu irmão que ainda tenho presentes são de discussão constante, luta constante, zanga todos os dias. Não havia um único dia em que não discutíssemos e berrássemos um com o outro - pobres pais os nossos! - e isto foi assim durante muitos e muitos anos. Mais precisamente até aos dezoito dele, meus quinze - e dá para imaginar a vida naquela casa durante mais de uma década!
No entanto, esta é uma história à Disney, com príncipes e princesas e felizes para sempre.
Quando o meu irmão fez dezoito anos saiu de casa, para onde só voltava para passar fins-de-semana. E a distância a que ficamos sujeitos nessa altura, fez a nossa vida dar uma volta de 180 graus. Ninguém diria, mas afinal nós gostávamos mesmo um do outro! Nunca mais se ouviram zangas ou discussões e com o tempo ficamos aquilo que fomos toda a vida mas não tínhamos distanciamento para ver: irmãos.
O meu irmão foi meu padrinho de casamento e é padrinho de baptismo da minha filha mais velha.
Além de meu irmão, é o tio D., que é das coisas mais bonitas que já vi.
A dada altura da vida ligou para me falar de uma pessoa. Momento Disney! E eu, e todos na verdade, adorávamos que estivesse mais perto para isto ser uma coisa de todos os dias mas as coisas são como são (ou como diria a C., isso não interessa, o que interessa é ter saúde) e o que realmente importa é que ele no fim do ano chegou a minha casa a dizer que dois dias depois ia pedir a K. em casamento! O meu irmão a casar!! Dei um grito tão grande que a C. veio a correr de lá de baixo preocupada com o estado da minha sanidade.
Dois dias depois a K. disse que sim ("se ela está apaixonada pelo tio D., claro que vai dizer que sim!" - as crianças é que sabem!) e parece que foi ontem que discutíamos para ver quem se sentava no lugar no meio do carro ou escolhia a música mas estamos os dois adultos, companheiros, amigos, irmãos e eu feliz como se fosse o meu casamento outra vez!
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