O Mundo e as estrelas e os sóis e as luas
Estou no meio da ponte, como o burro.
Quero que a minha filha saiba que o Natal não é só prendas, dar e receber, embrulhos e laços.
Que o mais importante é reunir a família, ter um tempo de paz que se possa prolongar o ano inteiro. Que os sentimentos, as memórias, as vivências são o que temos de maior e os presentes apenas dão mais cor sem serem o essencial. São uma parte significativa também, não vou ser fundamentalista. Principalmente para as crianças. O que para mim importa, agora que ela tem dois anos, é que possa construir memórias que sejam muito mais completas do que o desembrulhar prendas. Mas que ganhe também gosto por dar. O Natal também são as prendas mas não é só sobre as prendas.
Com isto em mente, compramos-lhe o que ela pediu: um panda enormeeeee (é como ela diz) e um livro mas (ainda) não lhe compramos mais nada. Aqui entra a ponte e o burro, que sou eu. Compro-lhe mais alguma(s) coisa(s) e encho o Natal dela com mais prendas? Ou dou-lhe só o que ela pediu e debaixo da árvore encontra só um presente para desembrulhar?
Que ninguém venha com o politicamente correcto e me diga que parte do encanto não é, também, ter muitos embrulhos para abrir. Claro que é. Tenho as melhores memórias do Natal - ainda hoje é a festa de que mais gosto - muitas delas nada têm a ver com prendas, mas com pessoas, cheiros, sabores, tradições - mas há uma recordação maravilhosa da manhã do dia 25 em casa, com os nossos sapatinhos cheios de prendas. Gostava que a minha filha construísse memórias felizes. Sei que não são os bens materiais que nos dão mais felicidade mas ela é pequena e vai ter tempo para crescer, Apetece-me dar-lhe o mundo e as estrelas e todos os planetas e cometas e astros e sóis e luas e dar-lhe (só) um Panda, parece-me tão pouco.
Natal também é tempo de agradecer. Estamos tão, tão gratos por ela que a queria encher de prendas como forma de lhe agradecer. Ela sim é um verdadeiro Natal na nossa vida, todos os dias. Gostava que soubesse disso. E há uma parte de mim que acha que ela poderia perceber melhor se tivesse trezentos embrulhos para abrir. E outra parte que me diz que não, que ela já sabe.
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