Não cuspas para o alto que te cai em cima
Aqui há uns quatro ou cinco anos, fomos um dia almoçar a casa de um dos administradores da empresa do P., um casal da nossa idade, com quem nos damos bem.
Na altura, já ele – o administrador – viajava imenso e o P. alguma coisa, mas menos.
Por esse motivo, eu conseguia acompanhar todas as viagens dele. Sabia sempre onde estava, fazia tracking religioso de todos os voos (há sites maravilhosos para isso), sabia todas as horas de chegadas e partidas, destinos, escalas, tudo ao detalhe.
Nessa altura, a mulher desse administrador dizia-me que não fazia ideia onde o marido andava a maior parte das vezes. Sabia, às vezes mal, em que dia chegava e voltava a ir, mas os voos, os destinos, as cidades, os países, já não conseguia acompanhar, tantas e tão constantes eram as viagens.
Aquilo soou-me quase a aberração. Eu que acompanhava todos os voos pelo computador, a ver o avião a atravessar os mapas, sabendo tudo ao pormenor. Como era possível ela não saber por onde viajava o marido?
Outro dia, na véspera de mais uma viagem do P., dei comigo a perguntar-lhe:
- Vais para onde mesmo?
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