Uma causa de exclusão da ilicitude nova
Vou cometer um crime que se levada a tribunal serei absolvida por legítima defesa com justa causa.
Isso mesmo, o Juiz vai inventar uma nova causa de exclusão da ilicítude, combinada com possibilidade de resolução do contrato porque será necessário inventar novos direitos, misturar penal com laboral, para reforçar a minha posição jurídica.
Vou ser agente no crime de homicídio qualificado da minha vizinha de cima. E o tribunal não só não me vai condenar, como irá parabenizar a minha atitude e declarar no fundo que estou a melhor o mundo, uma pessoa de cada vez.
Há seis meses que não dormimos em condições. Seis meses.
Não dormimos em condições porque a senhora dona vizinha de cima é uma cabra, pardon my french.
Todos os dias de madrugada ela acha bem, normal, adequado, passear-se em casa de tacões de madeira, que chocam contra a madeira do chão e criam um barulho de cem cavalos a correr. Em cima da nossa cabeça. A senhora passeia de um lado para o outro da casa, quarenta e sete vezes a cada cinco minutos (não faço ideia o que anda a fazer; organize-se senhora e faça tudo numa ponta antes de ir para a outra ponta da casa, ploamordedeus!), de tal forma que os cem cavalos parecem afinal mil, a puxar carroças. In-su-por-tá-vel.
Então mas porque ainda não foram falar com a senhora? Vai na volta ela é uma pessoa antiga, meio surda, sem noção do impacto que causa, cheia de boa vontade e intenções, que certamente atenderá à vossa chamada de atenção.
Surpresa? Não é!
É uma pessoa mal formada, mal intencionada, mal educada e sem um pingo de respeito pelos outros.
Pois que começamos por lhe colocar um bilhetinho simpático na porta, num dia em que gentilmente fomos chamar a atenção e a senhora não estava. Super educados. Quase a convidarmos para tomar um chá no andar de baixo para lhe explicarmos melhor a situação. Nada mudou.
Novo bilhete.
Depois investida pessoalmente. Educada, polida.
Sem efeito.
Já em desespero um dia ás seis e pouco da manhã, hora em que a senhora andava a vindimar de saltos altos no chão da casa inteira, o P. foi lá. Eu ouvi. Foi educado, correcto. A resposta foi: tenho de passear o cão, adeus. Devia tê-la mandado à merda.
Vamos entrar na fase seguinte - reclamação ao condomínio com esperanças de que façam votação para a expulsar do prédio.
Mas não vai resultar e é por isso que a próxima notícia deste caso será a de que eu estou a ser julgada em colectivo por crime que dá prisão com pena máxima. Mas pelo qual serei absolvida ou não fosse este mundo um mundo justo.
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