Direito ao sono
Retomando o post em que falava da minha vizinha, reconheço que a boa educação ficou um bocadadinho aquém do desejado. Não desejo mal a ninguém, não irei certamentar matar a senhora e devo sempre ter presente que a educação é bonita e eu gosto. Lamento as ofensas e qe me perdoem os mais sensíveis.
Posto isto e agora que já lavei a minha honra.
Há uns anos atrás tive um caso de uma senhora que vivia por cima de um supermercado e intentou uma acção porque não conseguia dormir.
Não só eu nunca tinha tido problemas destes para dormir como estava pelo supermercado (era o meu cliente) e achei que a senhora estava mesmo a exagerar. Afinal, havia ali algum barulho muito pela manhã mas nada que não se suportasse. Achava eu.
Anos antes, a senhora que vivia no nosso prédio em Coimbra (um prédio só de estudantes e por cima do café mais frequentado) chamou várias vezes a polícia porque dizia que havia muito barulho. Fez um abaixo assinado (que ninguém no prédio assinou) para o café fechar mais cedo porque não conseguia dormir. Claro que se fazia algum barulho no prédio mas nada que não se suportasse. Achava eu.
No sábado passado acordamos às seis da manhã com a minha vizinha. Ninguém mais conseguiu dormir. Não só ela usa tacões-cavalos como tem dois filhos (grandes) que não falam, gritam. Começaram a gritar às seis da manhã e não se calaram mais. Até termos desistido e saído da cama. Até a C. acordar a chorar.
Sou mãe de uma criança de dois anos e isso faz de mim altamente solidária com os pais de bebés que choram. Não olho, não julgo. Tento ajudar quando posso, eu sei que os bebés choram às vezes por nada.
O filho da minha vizinha não é bebé. Já anda na escola, terá cinco ou seis anos. Grita porque é mimado. Porque não sabe fazes as coisas de outra maneira, porque se calhar resulta. Quando eu digo que grita não quero dizer que chora alto. Quero dizer que berra mesmo, a altos pulmões.
Hoje acordamos, mais uma vez, às seis da manhã com isto. E eu que achei durante muito tempo que as pessoas que se queixavam de barulhos de noite era só porque não tinham mais que fazer, penitencio-me por ter defendido o supermercado e não ter assinado o papel da minha vizinha de Coimbra. Hoje, às seis da manhã, acordei tão nervosa que só me apetecia chorar. São barulhos que moem durante muito tempo até que se está desesperado. É assim que estamos há meses. Desesperados.
Não desejo mal a ninguém mas não posso deixar de desejar que a minha vizinha se mude (nós andamos a tentar) porque honestamente não sei bem quanto tempo mais aguentamos.
Gosto da igualdade, da liberdade, da democracia. Mas neste momento o sono parece-me o direito mais fundamental de todos.
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