Não sei que dia é hoje
Chegava a esta altura e eu era a pessoa que dizia "não ligo nada à Páscoa". É triste e roxo.
Mas depois...
Faz sol no quintal da minha avó e somos imensos. Há primos e tios em todos os lados, uns estão a ver o Harry Potter pela décima quinta vez, outros estão na conversa na relva. As meninas estão todas no baloiço enorme de ferro branco, onde eu já me magoei quando era bebé e onde anos mais tarde o meu afilhado se magoou também mas que nos continua a juntar a todos. Somos muitas e giras e tantas que não cabemos todas. Há colo das mais pequenas e eu fico apertadinha no meio. A seguir ainda se vão juntar as tias e de todos, metade somos mulheres. As fotografias ficam para sempre. Há amêndoas e chocolates e ovos e coelhos. E prendas para os afilhados mas somos todos padrinhos e afilhados entre nós por isso toda a família recebe alguma coisa. Está sempre calor e ficamos o dia todo no jardim. Almoçamos tarde e paramos o almoço a meio para receber a cruz. Somos os primeiros da rua. Há sempre cabrito e é o melhor de todos. Assa-o à minha mãe desde a sete da manhã e é tão bom que o comemos até às três da tarde. Há pão-de-ló e o meu avô perguntava sempre à minha mãe quanto queria para o comer todo. Nunca comeu. Há queijo limiano de casca cor-de-rosa debaixo de uma rede de ponto de cruz que sabe a casa da avó. E toda a gente leva doces. Come-se o dia todo. Sentamo-nos na escadaria da pedra e quem vê da rua vê-nos imensos, a rir. Vamos à cave buscar as minhas barbies e polly pockets, que têm mais de vinte anos e as minhas filhas brincam com elas. Lembro-me de as ter guardado para isto. Para as Páscoas e Natais, para as festas e encontros. Guardei-as para elas, ainda não sabia que as ia ter. E a minha avó a perguntar para que as queria guardar. Quando fica frio, subimos. Abrimos as portas que dividem as salas a meio e a mesa ocupa as duas. Já fomos mais. Mas continuamos a ser nós.
A Páscoa é a única festa de família que ainda acontece em casa da minha avó. Espalhamos as outras desde que o meu avô deixou de as passar connosco. Continua a doer entrar naquela casa e ele não estar sentado na sala, tão feliz por nos ver, a contar-nos a todos para ver que não falta nenhum. Mas foi de propósito que a mantivemos ali. É a única. Já tem havido anos em que a Páscoa é o único dia do ano em que nos encontramos todos em casa da avó.
Por isso eu posso ter sido a pessoa que tem dito que "não liga à Páscoa" mas a Páscoa liga-me a mim. Liga-nos a todos, uns aos outros. Hoje só estaremos juntos por vídeo chamada e a Páscoa não é bem Páscoa. Para ser sincera, não sei bem que diga é hoje.
Mas depois...
Faz sol no quintal da minha avó e somos imensos. Há primos e tios em todos os lados, uns estão a ver o Harry Potter pela décima quinta vez, outros estão na conversa na relva. As meninas estão todas no baloiço enorme de ferro branco, onde eu já me magoei quando era bebé e onde anos mais tarde o meu afilhado se magoou também mas que nos continua a juntar a todos. Somos muitas e giras e tantas que não cabemos todas. Há colo das mais pequenas e eu fico apertadinha no meio. A seguir ainda se vão juntar as tias e de todos, metade somos mulheres. As fotografias ficam para sempre. Há amêndoas e chocolates e ovos e coelhos. E prendas para os afilhados mas somos todos padrinhos e afilhados entre nós por isso toda a família recebe alguma coisa. Está sempre calor e ficamos o dia todo no jardim. Almoçamos tarde e paramos o almoço a meio para receber a cruz. Somos os primeiros da rua. Há sempre cabrito e é o melhor de todos. Assa-o à minha mãe desde a sete da manhã e é tão bom que o comemos até às três da tarde. Há pão-de-ló e o meu avô perguntava sempre à minha mãe quanto queria para o comer todo. Nunca comeu. Há queijo limiano de casca cor-de-rosa debaixo de uma rede de ponto de cruz que sabe a casa da avó. E toda a gente leva doces. Come-se o dia todo. Sentamo-nos na escadaria da pedra e quem vê da rua vê-nos imensos, a rir. Vamos à cave buscar as minhas barbies e polly pockets, que têm mais de vinte anos e as minhas filhas brincam com elas. Lembro-me de as ter guardado para isto. Para as Páscoas e Natais, para as festas e encontros. Guardei-as para elas, ainda não sabia que as ia ter. E a minha avó a perguntar para que as queria guardar. Quando fica frio, subimos. Abrimos as portas que dividem as salas a meio e a mesa ocupa as duas. Já fomos mais. Mas continuamos a ser nós.
A Páscoa é a única festa de família que ainda acontece em casa da minha avó. Espalhamos as outras desde que o meu avô deixou de as passar connosco. Continua a doer entrar naquela casa e ele não estar sentado na sala, tão feliz por nos ver, a contar-nos a todos para ver que não falta nenhum. Mas foi de propósito que a mantivemos ali. É a única. Já tem havido anos em que a Páscoa é o único dia do ano em que nos encontramos todos em casa da avó.
Por isso eu posso ter sido a pessoa que tem dito que "não liga à Páscoa" mas a Páscoa liga-me a mim. Liga-nos a todos, uns aos outros. Hoje só estaremos juntos por vídeo chamada e a Páscoa não é bem Páscoa. Para ser sincera, não sei bem que diga é hoje.
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